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Vídeo mostrando preço da gasolina a R$ 2,62 no Paraguai é antigo e está desatualizado

Conteúdo circula nas redes desde 2018 e foi gravado em posto na cidade de Salto del Guairá, na fronteira com o Brasil; estabelecimento cobra atualmente entre R$ 4,60 e R$ 7,92 por litro, entre produtos da linha comum e aditivada

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima e Victor Pinheiro
Atualização:

Um vídeo em que um brasileiro mostra o litro da gasolina aditivada sendo vendida a R$ 2,62 em um posto do Paraguai causou revolta em usuários do Facebook, diante do cenário de alta nos preços dos combustíveis este ano. O conteúdo, porém, é antigo: circula pelo menos desde 2018 na internet. O Estadão Verifica confirmou que o valor está desatualizado e não representa mais a realidade no país vizinho.

 Foto: Estadão

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A reportagem localizou o estabelecimento na cidade de Salto del Guairá, que fica na fronteira com o Brasil, a cerca de 170 quilômetros ao norte de Foz do Iguaçu (PR). A pedido do Estadão, um funcionário de uma loja próxima encaminhou a tabela de preços nesta segunda-feira, 27 de setembro de 2021. O posto estava cobrando entre R$ 4,60 (gasolina comum) e R$ 7,92 (aditivada de maior octanagem) por litro, como pode ser visto na imagem reproduzida abaixo.

Tabela de preços encaminhada por uma fonte de uma loja próxima ao estabelecimento, em 27/09/2021. Foto: Reprodução

Na média do país, dados da Petrobras Paraguay apontam que o preço sugerido de comercialização do produto nos postos da marca gira atualmente entre 5.480 e 9.350 guaranis na região de Assunção, dependendo da linha escolhida, da mais simples a premium. Pelo câmbio de 27/9, esses valores equivalem a R$ 4,25 e R$ 7,26, respectivamente. A empresa informa que, no resto do território paraguaio, o produto pode sair mais caro em função do frete -- a exemplo de Salto del Guairá, que fica a cerca de 400 quilômetros da capital paraguaia.

No Brasil, o monitoramento de preços da gasolina é uma responsabilidade da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), órgão do governo federal. Na semana passada, fechada em 25/9, o preço médio da gasolina comum era de R$ 6,09, enquanto a cotação média da gasolina aditivada era de R$ 6,23. A consulta envolve mais de 3 mil postos em todo o território nacional.

Essas informações sugerem que a gasolina comum da Petrobras Paraguay está cerca de 30% mais barata do que a média do produto no Brasil. A comparação, no entanto, deve ser vista com cautela, pois as fontes são diferentes e os dados podem não ter sido atualizados na mesma data. Além disso, o painel da Petrobras Paraguay indica apenas uma sugestão de preços para os postos da marca na região metropolitana de Assunção, enquanto a ANP informa a média efetivamente praticada em todas as revendas consultadas no Brasil.

Por outro lado, notícias recentes sugerem que os consumidores brasileiros de fato são atraídos pelo preço da gasolina ao cruzar a fronteira com o Paraguai. O G1 publicou em agosto uma reportagem mostrando que turistas atravessam a Ponte da Amizade, entre Foz do Iguaçu e Cidade do Leste, para encher o tanque economizando até R$ 70.

Em março deste ano, a Petrobras divulgou uma nota de esclarecimento sobre o vídeo que viralizou fora de contexto nas redes. "Há dois anos a Petrobras não tem rede de postos de gasolina no país", argumenta a estatal de capital misto. Em 2019, o grupo Copetrol comprou 100% da participação societária, informa a Petrobras, mas o acordo prevê o licenciamento para uso da marca nas estações de serviço paraguaias pelo período de cinco anos. 

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A companhia também argumentou que, no momento em que a nota foi publicada, dados da Global Petrol Prices indicavam que o preço médio do litro da gasolina no Paraguai, em dólares, era cerca de 3,9% mais caro do que no Brasil. Mas o levantamento mais atual (20/9) inverte essa lógica: média de US$ 1,14 nos postos brasileiros e US$ 1,05 entre os paraguaios, desvantagem de 8,6%.

Vídeo circula ao menos desde 2018

O vídeo da gasolina a R$ 2,62 no Paraguai é antigo -- circula pelo menos desde maio de 2018. O Estadão Verifica encontrou uma publicação daquela época a partir de buscas reversas de imagens, o que explica o fato de os valores estarem desatualizados.

Um fato curioso é que a peça está sendo usada tanto por apoiadores quanto por críticos do governo de Jair Bolsonaro, segundo levantamento feito por meio da ferramenta de monitoramento Crowdtangle. Ao mesmo tempo em que enfrenta críticas pela inflação, Bolsonaro atribui a culpa do preço dos combustíveis ao Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado pelos governadores, em um embate reproduzido na internet.

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Como mostrou o Estadão Verifica em outras checagens, o principal motivo da alta na gasolina em 2021 está no valor pago nas refinarias. O imposto estadual não teve alteração de alíquota, mas de fato acaba arrecadando mais ao acompanhar a alta, afinal, trata-se de um percentual que incide sobre a estimativa de preço. Os reajustes da Petrobras, por sua vez, são justificados pela companhia por conta da política de paridade de importação, que observa a flutuação da cotação do barril de petróleo e do dólar. 

Na média brasileira, o preço é composto por 33,5% de realização da Petrobras, 11,3% de impostos federais (Cide, PIS/Pasep e Cofins), 27,5% de imposto estadual (ICMS), 16,9% de custo de etanol anidro e 10,8% da operação de distribuição e revenda. O dado aparece em uma página da estatal com coleta entre os dias 12 e 18 de setembro.

Uma versão do vídeo do posto no Paraguai no Facebook teve mais de 1,5 mil compartilhamentos em 24h na semana passada e acumulou sozinha mais de 1 milhão de visualizações desde dezembro de 2020, quando foi publicada. Desde então, o preço da gasolina sofreu reajustes consecutivos e passou a pesar mais no bolso dos brasileiros. Pelas tabelas consolidadas da ANP, o aumento chega a 32% entre os meses de dezembro e agosto, passando de R$ 4,48 a R$ 5,93 de média.

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Como checamos a informação

A gravação mostra um homem abastecendo o carro em um posto de gasolina. Ele conversa com uma frentista vestindo um uniforme com o nome e as cores da Petrobras, depois pergunta quanto está custando a gasolina aditivada e ouve como resposta o preço de R$ 2,62. Afirma ainda que está na cidade de Salto del Guairá, que fica na fronteira com a cidade-gêmea de Guairá, no Paraná, e costuma receber turistas em lojas francas.

O Estadão Verifica procurou no Google por postos de gasolina na cidade paraguaia e encontrou dois possíveis endereços. O primeiro é do Servicentro Salto del Guaira Petrobras, que fica na beira de uma estrada próxima ao local, a Rota 10. O segundo é um posto de combustíveis descrito apenas pelo nome Petrobras, que fica na região central da cidade, na esquina da Av. Paraguay com a rua Pedro Juan Caballero.

Revendo o vídeo, a reportagem procurou elementos de fundo que poderiam ajudar a identificar qual o local correto. Foi possível notar a presença de um prédio de pelo menos dois andares, nas cores rosa e amarelo, com uma placa na frente e janelas grandes de vidro. Aparentemente, era do outro lado da rua.

Captura de tela sobre o vídeo viral que circula nas redes. | Foto: Reprodução

Com o auxílio da ferramenta Street View, do Google Maps, o Estadão Verifica confirmou que o estabelecimento correto é o posto Petrobras do centro da cidade. O prédio que aparece no fundo é uma loja chamada Forte Auto Service, como pode ser visto abaixo.

 Foto: Estadão

 

Google Street View confirma localização correta do posto de gasolina, na frente da loja Forte. | Foto: Reprodução

Por fim, o Estadão Verifica tentou falar com o posto e lojas próximas que poderiam informar qual o preço atual da gasolina no estabelecimento. Nesta segunda-feira, 27 de setembro, o atendimento da loja Shopping China, que fica atrás do posto de gasolina, encaminhou uma foto da tabela de preços em uma conversa pelo aplicativo WhatsApp.

A reportagem ainda pesquisou informações da Petrobras Paraguay e da empresa no Brasil e consultou cotações médias nos sites da ANP, levantamento da consultoria comercial Global Petrol Prices e notícias sobre o assunto.

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Esse boato também foi checado por Aos Fatos, Lupa, Fato ou Fake, AFP e Boatos.org.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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