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Vídeo viral foi gravado em hidrelétrica no Paraguai, não em barragem na Bahia

Imagens circulam na internet pelo menos desde 2017, associadas a fortes chuvas na região de Ayolas, em abril daquele ano

Por Clarissa Pacheco
Atualização:

Um vídeo antigo da Usina de Yacyretá, localizada no Rio Paraná, na fronteira entre Argentina e Paraguai, voltou a circular nas redes como se mostrasse uma barragem no Brasil após as fortes chuvas de dezembro de 2021. Nas imagens, é possível ver um grande volume de água passando pelas comportas da hidrelétrica, todas abertas. No Facebook, um post com mais de 68 mil interações diz que as imagens são da Barragem de Sobradinho, na Bahia, mas a afirmação é falsa.

 Foto: Estadão

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As imagens circulam na internet pelo menos desde 2017, em vídeos postados por perfis de usuários do Paraguai no YouTube. Procurada pelo Estadão Verifica, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela Barragem de Sobradinho, negou que as imagens tenham sido gravadas lá. Segundo o departamento de comunicação, a região enfrentava naquela época uma forte seca, que se estendeu até 2019. Além disso, um fotógrafo da Chesf esteve na região esta semana e atestou que a situação na barragem no momento não se assemelha à das imagens compartilhadas.

O vídeo também foi publicado no Twitter em 2019, com legendas que afirmavam que as imagens eram das Cataratas do Iguaçu ou, ainda, da Usina de Itaipu, o que também não é verdade. Em 31 de maio de 2019, a conta oficial no Facebook da Itaipu Binacional - usina hidrelétrica que fica entre Brasil e Paraguai - postou o mesmo conteúdo, informando não se tratar de Itaipu, e sim de um "um vídeo antigo da usina binacional de Yacyretá, localizada na fronteira da Argentina com o Paraguai".

Comportas abertas

Em sua conta no Twitter, um jornalista equatoriano publicou o mesmo vídeo em junho de 2019 com a seguinte legenda: "No resiste más na represa de Iguazú" (A barragem de Iguaçu não resiste mais, em livre tradução do espanhol). Nos comentários do post, pessoas afirmavam que o vídeo era antigo e que o Parque Nacional do Iguaçu havia desmentido que as imagens fossem de 2019. Segundo um comunicado do parque, as imagens eram de 2014, quando houve no local uma vazão recorde de 40 milhões de litros por segundo, volume 30 vezes maior do que o normal. Nessa época, a água teria transbordado sobre a superfície da passarela de onde turistas contemplam as cataratas.

As imagens do vídeo verificado, contudo, não se parecem com a passarela em questão, que dá acesso ao local conhecido como Garganta do Diabo.

"Passarela" ao lado das comportas da hidrelétrica, mostrada no vídeo verificado. Foto: Reprodução

Passarela das Cataratas do Iguaçu, tomada pelas águas após vazão recorde em 2014. Foto: Reprodução/RPC Paraná

Uma busca reversa por frames do vídeo por meio da ferramenta Yandex, entretanto, leva a uma imagem similar postada em sites de notícia do Paraguai. É possível comparar o desenho das comportas, uma passarela abaixo delas e torres de transmissão do lado direito das imagens. 

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Comportas, pista e torres de transmissão ao fundo. Foto: Reprodução

Imagem publicada em diversos sites de notícias do Paraguai tem mesmos elementos que aparecem no vídeo. Foto: Reprodução

Buscando pelos termos Yacyretá e lluvia (chuva, em espanhol) no YouTube, foi possível localizar dois vídeos postados por usuários paraguaios nos dias 26 e 27 de abril de 2017. Em um deles, a legenda afirma que a represa de Yacyretá havia ficado daquela maneira após chuvas torrenciais na região da Ayolas, no Paraguai.

Uma notícia publicada pela imprensa local no dia 25 de abril de 2017 informava que a área da Hidrelétrica de Yacyretá havia sido afetada por conta das fortes chuvas e que, diante do aumento da vazão do Rio Paraná, a hidrelétrica iria aumentar as descargas nas comportas para uma faixa entre 21 mil e 22 mil metros cúbicos por segundo.

Uma imagem feita num local próximo à postada pelo site de notícias foi usada em um dos vídeos, publicado em 27 de abril e 2017.

Foto postada em site de notícias no dia 25 de abril de 2017. Foto: Reprodução

Trecho de vídeo postado no YouTube em 27 de abril de 2017. Foto: Reprodução

Vídeo foi falsamente associado a apagão de junho de 2019

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O site argentino Chequeado, que também verifica conteúdos nas redes, publicou uma checagem sobre o mesmo vídeo em junho de 2019. Na época, ele foi falsamente associado a um apagão que afetou a Argentina e o Uruguai no dia 16 de junho daquele ano. Ao Chequeado, representantes da Entidade Binacional Yacyretá (EBY) confirmaram que o vídeo mostrava a usina, mas não correspondia à realidade de 2019 e não tinha qualquer relação com o apagão.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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