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Para atacar ativista Txai Suruí, postagens falsas usam foto de outra mulher em festa

Jovem indígena se tornou alvo de desinformação após discursar na COP-26, a Cúpula do Clima em Glasgow

Por Pedro Prata
Atualização:

A ativista indígena Txai Suruí se tornou alvo de desinformação desde que discursou na Cúpula do Clima, a COP-26, em Glasgow. Postagens no Facebook compartilham fotos de uma mulher participando de festas como se fossem de Txai, mas não é ela a pessoa que aparece nas imagens. As imagens são compartilhadas com mensagens que questionam o pertencimento indígena da ativista. 

Txai Suruí: 'Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática'. Foto: Kiara Worth/UNFCCC-COP_26

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"Olha aí a 'índia brasileira' que foi falar mal do seu País lá fora", diz a postagem (veja aqui) com mais de 17 mil compartilhamentos no Facebook. Ela ainda acusa a jovem de ser "índia nas horas vagas".

É falso que as fotos mostrem Txai Suruí. Elas são da conta no Instagram de nome @aurora_lincoln2, pertencente a uma mulher de São Luís, no Maranhão. O perfil da ativista na rede social é @txaisurui.

Txai Suruí pertence ao povo Paiter Suruí. Ela é uma das fundadoras do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Atualmente estudando Direito, atua no núcleo jurídico da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé.

Em seu discurso na COP-26, ela falou sobre a importância de proteger a Amazônia e de se ouvir os povos indígenas no enfrentamento à crise do clima. "Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática", disse.

Ela foi alvo de críticas de Jair Bolsonaro, que não compareceu ao evento. O presidente já defendeu a abertura das terras indígenas para a mineração e proferiu alegações falsas, como dizer que são os índios os responsáveis por incêndios florestais.

No Twitter, a jovem falou que recebeu "mensagens racistas e de ódio" questionando o fato dela ser indígena e aparecer usando celular ou viajando em países estrangeiros. "Minha mãe me disse para continuar com minha mensagem de esperança e meu pai me lembrou de que sou uma guerreira da paz", falou.

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Movimentos indígenas já foram alvo de desinformação e ataques racistas nas redes sociais. Usuários questionaram o fato de alguns indígenas que foram a Brasília protestar contra a tese do marco temporal este ano não possuírem o fenótipo que é comumente associado aos povos originários. Apesar disso, ativistas e pesquisadores explicam que um indivíduo se identifica como indígena por aspectos culturais, e não genéticos.

Esse conteúdo também foi checado por Boatos.org.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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