Texto faz uma série de alegações falsas sobre sintomas da variante Delta

Nova cepa tem apresentado sinais parecidos com um resfriado mais forte, como dor de cabeça, dor de garganta e coriza nasal; no entanto, febre e tosse também podem estar presentes

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Por Gabi Coelho
Atualização:

Circula nas redes sociais e no WhatsApp um texto que alega que a variante Delta do novo coronavírus não causa febre nem tosse. Na verdade, de acordo com especialistas consultados pelo Estadão Verifica e um estudo britânico de monitoramento da covid-19, embora esses dois sintomas estejam mais associados à variante Alpha (inicialmente identificada no Reino Unido), ambos podem ocorrer em pessoas infectadas pela cepa Delta (da Índia). O texto contém ainda outras informações falsas, como a de que a variante não é detectada em exames RT-PCR.

 

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O texto circula com a logomarca da prefeitura de Palestina do Pará, município paraense. Em nota divulgada em julho, a equipe da Secretaria Municipal de Saúde da cidade esclareceu que recebeu a mensagem em um grupo de trabalho e, após notar que continha informações falsas, optou por retirar das redes sociais o conteúdo compartilhado. 

O que é verdade sobre a variante Delta

A variante Delta tem apresentado sinais que podem ser confundidos com um resfriado mais forte, como dor de cabeça, dor de garganta e coriza nasal. A febre permanece bastante comum, mas a perda do olfato não aparece mais entre os 10 principais sintomas, diz o professor Tim Spector, que dirige o estudo Zoe Covid Symptom -- grupo de pesquisa liderado pelo King's College London (KCL) que acompanha os sintomas da doença com o auxílio de 4 milhões de colaboradores em todo o mundo.

Dois especialistas consultados pelo Estadão Verifica -- o professor Renan Pedra Souza, do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury -- explicam que febre e tosse continuam a ser sintomas relacionados à covid-19. Por isso, é importante ficar atento a esses sinais.

"Há heterogeneidade na manifestação de sintomas", diz Souza. "Varia desde pacientes sem sintomas, até pacientes com sintomas graves que evoluem para óbito", conclui o especialista integrante do departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB. 

Souza contesta outra afirmação do texto que circula nas redes sociais -- de que "a cepa não vive na região do nariz e garganta". Segundo o especialista, "todas as versões do novo coronavírus habitam no trato respiratório [parte da anatomia que possui relação com os processos da respiração] como em outras partes do corpo também. Então, a variante Delta também habita no nariz e na garganta durante seu ciclo no corpo humano".

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Outra alegação incorreta é que o vírus da variante Delta se espalha diretamente para os pulmões, causando pneumonia, que só seria identificada por radiografia. Celso Granato comenta que "o número de genotipagem é tão baixo para saber se realmente esses pacientes citados no texto foram prejudicados pela variante Delta em específico. Acho altamente improvável que isso aconteça". 

O que é a variante Delta

Identificada pela primeira vez na Índia, em outubro de 2020, a cepa é classificada como uma das "variantes de preocupação" pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por causar mais infecções e se espalhar mais rapidamente do que as formas iniciais de SARS-CoV-2. Dados divulgados em julho pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), mostram que a cepa é duas vezes mais contagiosa que as outras. Até o momento, não há estudos científicos que comprovem que a variante Delta cause mais mortes, como afirma o boato.

Dados reunidos pelo Ministério da Saúde mostram que o Brasil chegou na última terça-feira a 1.051 casos confirmados da variante Delta. Houve alta de 84% em relação aos 570 diagnósticos positivos para a cepa divulgados em balanço da segunda semana de agosto

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Um estudo feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, concluiu que as vacinas da Pfizer e da Astrazeneca são eficazes contra a variante Delta, mas o nível da proteção tende a cair com o tempo. A pesquisa em formato preprint (sem revisão dos pares), publicada na última quinta-feira, 19, também apontou que a carga viral dos pacientes infectados pela Delta, mesmo após imunizados, é maior do que entre aqueles que contraíram o vírus por outras cepas.

Teste 'swab' é confiável para diagnosticar covid-19

Os dois especialistas consultados confirmam que o teste RT-PCR é eficaz para identificar pacientes infectados com a covid-19, seja da variante Delta ou de outras cepas. O diagnóstico é considerado "padrão ouro" e permite saber se o paciente está infectado no momento em que o exame é realizado. O infectologista Celso Granato orienta que o RT-PCR seja realizado no início da manifestação da covid-19, especialmente na primeira semana, quando o indivíduo possui grande quantidade do vírus SARS-CoV-2.

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O material é coletado da garganta (orofaringe) e do nariz (nasofaringe) com uma haste flexível. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), todos os testes são registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e têm que ser liberados previamente para a comercialização e uso para diagnóstico.

"São exigidos documentos da empresa, como Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE) e Certificação de Boas Práticas de Fabricação (CBPF). Além disso, devem ser apresentados documentos sobre o produto a ser registrado, tais como ensaios clínicos, fluxo de produção, estudo de estabilidade, segurança, qualidade e eficácia", conclui o texto da Fiocruz, que também realiza algumas dessas avaliações no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). 

A parte final do texto, que fala que é necessário continuar tomando todos os cuidados, é também uma orientação do CDC e de outras organizações de saúde. "Neste momento, à medida que construímos o nível de vacinação em todo o país, devemos também usar todas as estratégias de prevenção disponíveis, incluindo uso de máscaras em locais públicos, para interromper a transmissão e deter a epidemia", orienta a agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. 

Este boato também foi verificado pelo serviço Fato ou Fake, do portal de notícias G1.