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Vídeo é adulterado para parecer que Renata Vasconcellos mentiu sobre 'fique em casa' no JN

Apresentadora do Jornal Nacional disse em março de 2020 que recomendação era para ficar em casa 'se puder'; postagens omitem parte da frase da jornalista

Por Clarissa Pacheco
Atualização:

São falsos os vídeos que circulam nas redes sociais afirmando que a jornalista Renata Vasconcellos, do Jornal Nacional, mentiu sobre a política de distanciamento social contra a covid na sabatina com o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), na última segunda-feira, 22. Durante a entrevista com Bolsonaro, Renata afirmou que autoridades de saúde ao redor do mundo recomendavam, no pico da pandemia, que quem pudesse deveria ficar em casa. Depois da entrevista, postagens falsas passaram a afirmar que a apresentadora do JN havia dito em 2020 que a recomendação era para que todos ficassem em casa, e não apenas aqueles que tinham condições de praticar o distanciamento.

As postagens em questão usam um trecho adulterado de uma edição do Jornal Nacional. No material editado, foi cortada a fala em que Renata diz que, "para quem pode", a principal recomendação era ficar em casa. Os posts falsos omitem, inclusive, uma parte em que a jornalista diz que trabalhadores de saúde e de serviços essenciais não tinham como aderir ao distanciamento.

 Foto: Estadão

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O trecho adulterado foi retirado de um editorial do JN que foi ao ar em 23 de março de 2020. Na abertura do JN, William Bonner e Renata Vasconcellos pedem calma em uma fala que dura pouco mais de quatro minutos. Renata diz, primeiro, que o Brasil e o mundo vivem uma crise grave com a covid-19 e que as autoridades de saúde recomendam alguns cuidados especiais para que se atravesse a crise. Depois de uma rápida fala de Bonner, Renata afirma, a partir de 1:23:

"É isso, além dos cuidados com a higiene, que o principal pedido hoje, para quem pode, é ficar em casa, até que venha a orientação pra sair. Mas, claro que alguns profissionais não podem cumprir essa ordem, porque fazem um trabalho essencial, não podem parar. Isso vale pra quem é profissional de saúde, esses são heróis, são sempre os heróis. Mas é verdade também pra quem recolhe o lixo das ruas, para os policiais, pra quem faz a manutenção da rede elétrica, da telefonia, por exemplo, e pra muitos e muitos outros".

O trecho que viralizou nas redes foi adulterado e mostra apenas uma parte da fala da jornalista. Ele remove, além do trecho sobre a recomendação de ficar em casa ser "para quem pode", também a explicação sobre os serviços essenciais, que não podem parar e, por isso, também não podem seguir a recomendação de ficar em casa. Nos vídeos virais, aparece apenas uma frase curta, e é possível perceber que há um corte logo após a expressão "ficar em casa": "É isso, além dos cuidados com a higiene, que o principal pedido hoje é ficar em casa, até que venha a orientação pra sair".

Material do Ministério da Saúde também recomenda o 'fique em casa'

Apesar de boa parte dos vídeos analisados atribuírem a campanha do "Fique em casa" à Rede Globo, a recomendação não partiu unicamente da emissora. A frase dita por Renata durante a sabatina - "Fique em casa, se puder" - aparece em materiais oficiais de divulgação da administração pública, de órgãos da Justiça e entidades de classe, e até mesmo em um material oficial do Ministério da Saúde, apesar das críticas do presidente Bolsonaro à quarentena.

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No dia 19 de novembro de 2020, uma quinta-feira, o Ministério da Saúde divulgou uma lista de orientações sobre a covid-19. Uma das 11 recomendações dizia: "Evite circulação desnecessária nas ruas. Se puder, fique em casa". Também havia outras orientações, como manter distância de dois metros de pessoas tossindo ou espirrando e evitar abraços, beijos e apertos de mão.

Antes disso, em março de 2020, um post nas redes sociais do Senado Federal fazia a mesma recomendação: "Se você puder, fique em casa. Mas se precisar sair, lembre-se de manter a distância de pelo menos dois metros das outras pessoas".

A Prefeitura de Salvador também recomendou que as pessoas evitassem circulação desnecessária: "Evite circulação desnecessária nas ruas, estádios, teatros, shoppings, shows, cinemas e igrejas. Se puder, fique em casa", diz lista de recomendações que permanece em site oficial.

A mesma frase aparece em peças divulgadas pelas prefeituras como as de Belo Horizonte, Santa Efigênia, Crucilândia, Bom Despacho (MG), Magé (RJ), Princesa Isabel (PB), Mirassol do Oeste (MT), Edealina (GO), pelo Tribunal de Justiça do Amapá (TJ-AP), pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), pelo Governo do Estado de São Paulo, entre outros.


CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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