Guilherme Bianchini, especial para o Estadão
26 de outubro de 2020 | 16h01
Uma postagem que viralizou no Facebook mistura informações sobre diferentes traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). A publicação dá a entender que André Oliveira Macedo, o André do Rap, atribuiu seu habeas corpus (HC) a um pagamento de R$ 3 milhões, segundo descobertas do serviço de inteligência do governo do Estado de São Paulo. Mas quem falou sobre um pagamento de R$ 3 milhões, na verdade, foi outro criminoso da facção: Valter Lima Nascimento, o Guinho. Nas conversas interceptadas pela investigação, o traficante não deixa claro quem receberia o valor ou se o dinheiro serviria para pagar honorários de advogados.
Postagem mistura informações de diferentes traficantes do PCC. Foto: Polícia Civil
O texto da imagem questiona: “Quem recebeu esse dinheiro?”, com uma foto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello ao fundo, responsável por determinar a soltura de André do Rap e de Guinho. Não existe, porém, qualquer indício de ligação do magistrado com o dinheiro citado por Guinho.
As informações do monitoramento do sistema de inteligência de São Paulo, misturadas no boato checado, foram divulgadas em uma reportagem da Folha de S.Paulo. “Não passo o Natal aqui dentro”, teria dito André do Rap a colegas do presídio. O traficante deixou o presídio de Presidente Venceslau, em São Paulo, em 10 de outubro, e está foragido após o STF decidir, por nove votos a um, que ele deve voltar à prisão.
A mesma matéria da Folha cita uma conversa de Guinho, preso em setembro de 2019 e solto em 14 de abril de 2020. Nesse diálogo, ele comentou sobre a necessidade de pagar R$ 3 milhões para impetrar um habeas corpus no STF. As escutas de Guinho, portanto, nada têm a ver com as de André do Rap.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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