Poema sobre esperança no pós-pandemia foi escrito em 2020, não no século XIX

Texto de autoria do cubano Alexis Valdés circulou nas redes sociais do Brasil fora de contexto

PUBLICIDADE

Por Pedro Prata
Atualização:

Um boato compartilhado em vários países afirma que um poema sobre a pandemia de covid-19 foi escrito há "dois séculos". Na realidade, o texto Esperança foi publicado por um humorista cubano em março. O conteúdo checado pelo Estadão Verifica recebeu 13,3 mil compartilhamentos no Facebook desde o final de setembro.

Poema foi escrito por cubano em março de 2020. Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

O poema imagina um mundo pós-pandemia: "Quando a tempestade passar/E se amansem as estradas/E sejamos sobreviventes/de um naufrágio coletivo./Com o coração choroso/e o destino abençoado/Vamos nos sentir bem-aventurados/Tão só por estar vivo". O autor segue dizendo que "lembraremos tudo aquilo que perdemos", "seremos mais generosos" e "vamos suar empatia". E termina: "Quando a tempestade passar/Eu te peço Deus, triste/Que nos tornes melhores/como você nos sonhou..."

Esperanza foi publicado inicialmente por Alexis Valdés em site do jornal Periodico Cubano.

Valdés se apresenta como diretor, ator, escritor, cantor e humorista. Posteriormente, ele divulgou uma versão musicada do poema em sua página no YouTube. À agência de checagem AFP da Argentina, o cubano confirmou ser o autor do poema.

Quando publicou o texto em suas redes sociais, alguns usuários alegaram se tratar de obra do poeta uruguaio Mario Benedetti. A confusão foi tanta que a fundação responsável pelo legado do artista publicou uma negativa de que Benedetti fosse o autor.

'Devido ao mal-entendido gerado nas redes sociais e à quantidade de pedidos de esclarecimento recebidos, afirmamos que o poema conhecido como 'Esperança', 'Quando a tempestade passar' ou 'Tormenta' não pertence a Mario Benedetti. Foto: Facebook/Reprodução

Poema também foi creditado a escritora do século XIX

No Brasil, versões traduzidas do poema também foram compartilhadas com crédito a K. O'Meara, como se ela tivesse escrito a obra em 1800. Em abril, o Estadão Verifica já havia checado um outro poema falsamente atribuído a Kathlenn O'Meara, biógrafa e romancista franco-irlandesa nascida em 1839.

Publicidade

Na realidade, o poema em questão, chamado No Tempo da Pandemia, foi escrito em 2020 pela professora aposentada Catherine O'Meara. "Voltei a escrever no meu blog e publiquei o poema em prosa No Tempo da Pandemia. Eu tinha parado com o blog por motivos de saúde. Mas assim que começou este período de quarentena, fiquei preocupada com alguns amigos de instituições de longa permanência", contou Catherine ao Estadão Verifica.

Este conteúdo também foi checado pela Agência Lupa.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.