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Poema que descreve quarentena foi escrito em 2020, e não em 1869

Texto ‘No Tempo da Pandemia’ viralizou nas redes sociais atribuído a escritora do século 19, como se fosse 'profecia'

Por Pedro Prata
Atualização:

Leia a versão em espanhol

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Um poema que circula em posts nas redes sociais, creditado a Kathlenn O'Meara e datado de 1869, na verdade foi escrito por Catherine O'Meara, uma capelã e professora aposentada de Madison, no estado norte-americano de Winsconsin. Publicado em 13 de março de 2020, In the Time of Pandemic (No Tempo da Pandemia, em tradução livre) é um poema sobre a pandemia da covid-19. Ele foi publicado três dias depois de ser escrito no blog de língua inglesa The Daily Round.

"Voltei a escrever no meu blog e publiquei o poema em prosa No Tempo da Pandemia", contou Catherine ao Estadão Verifica. "Eu tinha parado com o blog por motivos de saúde. Mas assim que começou este período de quarentena, fiquei preocupada com alguns amigos de instituições de longa permanência."

Kitty, como ela gosta de ser chamada, trabalhou com cuidados paliativos em instituições de saúde, segundo contou ao site Oprah Magazine, e se preocupa com os colegas que continuam na linha de frente do combate à pandemia. "Eu gostaria de poder fazer algo por eles, e meu marido me encorajou muito a voltar a escrever."

O poema foi compartilhado no Facebook com o falso título Curar, como se fosse de autoria de Kathleen O'Meara, biógrafa e romancista franco-irlandesa do século XIX. Por isso, posts nas redes sociais alegavam que o poema teria previsto a pandemia do novo coronavírus. O texto já foi visualizado mais de 1,2 milhão de vezes desde que foi postado em português, em 31 de março.

 Foto: Reprodução/Facebook

O blog mantido por Kitty mantém um aviso sobre direitos autorais: "Os direitos de qualquer material visual ou escrito presentes no The Daily Round pertencem exclusivamente a Catherine M. O'Meara, 2011-Presente. O uso sem autorização de Catherine O'Meara é expressamente proibido."

Leia abaixo o poema No Tempo da Pandemia, de Catherine O'Meara:

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"E as pessoas ficaram em casa.

E leram livros, e escutaram, e descansaram, e fizeram exercícios, e fizeram arte, e jogaram jogos, e aprenderam novos jeitos de ser, e ainda eram.

E escutaram mais atentamente. Alguns meditaram, alguns rezaram, alguns dançaram. Alguns conheceram suas sombras. E as pessoas começaram a pensar de maneira diferente.

E as pessoas se curaram.

E, na ausência de pessoas vivendo de forma ignorante, perigosa, sem consideração ou coração, a Terra começou a curar.

E quando o perigo passou, e as pessoas voltaram a se reunir, elas fizeram luto por suas perdas, e fizeram novas escolhas, e sonharam com novas imagens, e criaram novos modos para viver e curar a Terra plenamente, assim como elas haviam sido curadas."

Esse boato também foi chegado pela agência de notícias AFP.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Versão em espanhol

Texto traduzido pelo LatamChequea, grupo colaborativo que reúne dezenas de fact-checkers da América Latina no combate à desinformação relacionada ao novo coronavírus.

Poema que describe la cuarentena fue escrito en 2020, no en 1869

ABRIL 30, 2020

En publicaciones en las redes sociales circula un poema datado en 1869 cuya autoría se adjudica a Kathlenn O´Meara. En realidad, fue escrito por Catherine O'Meara, una capellana y profesora jubilada de Madison, en el estado norteamericano de Wisconsin. Publicado el 13 de marzo de 2020, In the Time of Pandemic (En tiempos de pandemia, en traducción libre) es un poema sobre la pandemia de la Covid-19. Se publicó tres días después de haber sido escrito en el blog de lengua inglesa The Daily Round.

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"Volví a escribir mi blog y publiqué el poema en prosa En tiempos de pandemia", contó Catherine a Estadão Verifica. "Yo había dejado el blog por motivos de salud. Pero ni bien comenzó este periodo de cuarentena, me quedé preocupada por algunos amigos de instituciones de larga trayectoria".

Kitty, como le gusta que la llamen, trabajó en cuidados paliativos en instituciones de salud, según le contó al sitio Oprah Magazine, y se preocupa por los compañeros que siguen en el frente de combate a la pandemia. "Quería poder hacer algo por ellos y mi marido me incentivó mucho a que volviera a escribir."

El poema se compartió en Facebook con el falso título Curar, como si fuera de la autoría de Kathleen O´Meara, biógrafa y romancista franco-irlandesa del siglo XIX. Es por eso que las publicaciones en las redes sociales comentaban que el poema habría previsto la pandemia del nuevo coronavirus. El texto ya tuvo más de 1,2 millones de visualizaciones desde su publicación en portugués, el 31 de marzo.

El blog de Kitty tiene un aviso sobre derechos de autor: "Los derechos de cualquier material visual o escrito en el blog The Daily Round pertenecen exclusivamente a Catherine M. O´Meara, 2011-Presente. El uso sin autorización de Catherine O´Meara está expresamente prohibido".

A continuación, el poema En tiempos de pandemia, de Catherine O´Meara:

"Y la gente se quedó en casa.

Y leyó libros y escuchó, y descansó e hizo ejercicio, e hizo arte y jugó juegos, y aprendió nuevos modos de ser y permaneció quieta.

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Y escuchó más profundamente. Algunos meditaron, algunos rezaron, algunos bailaron. Algunos conocieron sus sombras. Y la gente empezó a pensar de forma diferente.

Y la gente sanó.

Y en ausencia de personas que viven de forma ignorante, peligrosa, sin consideración o corazón, la Tierra comenzó a sanar. 

Y cuando pasó el peligro, las personas volvieron a reunirse, y lamentaron sus pérdidas, e hicieron nuevas elecciones, y soñaron con nuevas imágenes, y crearon nuevas formas de vivir y de sanar a la Tierra plenamente, así como ellas habían sido sanadas."

Este rumor también fue chequeado por la agencia de noticias AFP.

 

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