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Para inflar manifestações pró-Bolsonaro, posts tiram de contexto reportagem sobre protesto de 2015

Vídeo de atos a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff são compartilhados como se fossem deste ano

Por Pedro Prata
Atualização:

Uma reportagem da emissora GloboNews foi tirada de contexto nas redes sociais para inflar o tamanho de manifestações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) organizadas neste sábado, 1º de maio. Na verdade, as imagens mostram cobertura das manifestações favoráveis ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2015.

Reportagem antiga é tirada de contexto nas redes sociais. Foto: Reprodução

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"Parabéns para a Rede Globo por ter noticiado de forma correta a cobertura da manifestação de ontem - Dia 1o de maio de 2021", dizem as postagens no Facebook. Elas se baseiam em um vídeo postado no YouTube com o título "Globo admitiu manifestação pró-Bolsonaro a maior da história" (sic). Esta postagem já foi visualizada ao menos 174 mil vezes.

O vídeo foi publicado no YouTube em 2 de outubro de 2018, o que já provaria não se tratar das manifestações ocorridas neste final de semana. No entanto, um indício permite concluir que a gravação seria ainda mais antiga, de 2015. Ao final da gravação, é possível ver um cartaz onde se lê "fora Dilma", um dos lemas das manifestações favoráveis ao impeachment da então presidente petista.

Cartaz prova que manifestação é antiga. Foto: Reprodução

Uma busca no Google com os termos "PM manifestação Paulista 1 milhão" mostrou links para reportagens de 15 de março de 2015. Conforme mostrou o Estadão, naquela data a Polícia Militar do Estado realmente estimou em 1 milhão o número de manifestantes.

Um ano depois, outro protesto contra a presidente Dilma reuniu até 1,4 milhão de pessoas, segundo a PM. Para isso, os manifestantes ocuparam toda a extensão da Avenida Paulista (veja a foto a seguir). O Instituto Datafolha divergiu do cálculo da corporação e estimou em 500 mil os participantes.

Manifestação pelo impeachment de Dilma Rousseff ocupou toda a extensão da Avenida Paulista (13/03/2016). Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O feriado de 1º de maio de 2021 realmente contou com manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro em algumas cidades do País, mas os atos não foram tão numerosos como os protestos pelo impeachment de Dilma. Neste sábado em São Paulo, os apoiadores fizeram críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao governador João Doria (PSDB) e às medidas de isolamento social de restrição do comércio durante a pandemia.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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