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Foto de placas de energia solar instaladas sobre canal d'água é da Índia, não do Brasil

Post viral distorce origem da imagem para espalhar que governo Bolsonaro mandou instalar painéis no canal de transposição do Rio São Francisco

Por Pedro Prata
Atualização:

É falso que o governo federal tenha instalado painéis solares sobre o canal de transposição do Rio São Francisco. Postagens trazem uma imagem da suposta obra e afirmam que foi feita sob determinação do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas na verdade as fotos foram feitas na Índia, mais de quatro anos atrás.

 Foto: Estadão

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O presidente chegou a anunciar um projeto semelhante, em 2019, mas não saiu do papel. Procurada pela reportagem, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) afirmou que nenhuma atividade de instalação de placas geradoras de energia solar está sendo feita no local. 

Uma postagem com a associação enganosa com as imagens foi compartilhada ao menos 44 mil vezes no Facebook.

Origem das fotos

O Estadão Verifica utilizou o mecanismo de busca reversa do Google para identificar a origem da foto. A ferramenta permite ver outras vezes em que a imagem foi publicada (veja aqui como você pode fazer).

Uma das fotos está disponível em um relatório da empresa AECOM para a prefeitura da cidade de Visakhapatnam, na costa oeste da Índia (veja o documento abaixo). A AECOM é uma empresa especializada em consultoria para projetos de infraestrutura.

Relatório

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O Estadão Verifica entrou em contato por e-mail para confirmar se a foto foi tirada na cidade de Visakhapatnam, mas não obteve retorno. O relatório é de 2017, portanto a foto foi tirada antes de Bolsonaro ser eleito presidente.

Não foi possível encontrar a origem da segunda foto. Ao realizar a busca reversa, foi possível encontrá-la em perfis no Twitter que afirmam se tratar de uma iniciativa indiana. As fotos com melhor qualidade permitem identificar uma marca d'água com o nome de um perfil no Instagram sobre engenharia. A postagem original também afirma se tratar de uma obra na Índia, não no Brasil.

Uma matéria da BBC mostra que a tecnologia já começou a ser aplicada no gigante asiático. A Índia tem mais de um bilhão de habitantes e a pressão por terras é grande. A técnica é importante porque permite gerar energia em uma área que já estava ocupada e não poderia ser utilizada para moradia ou produção de alimentos.

Além disso, colocar células fotovoltaicas em cima de um curso d'água resfria o equipamento e reduz a evaporação do canal.

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Governo federal já falou em aplicar a técnica

Em agosto de 2019, o presidente Jair Bolsonaro inaugurou a primeira etapa da Usina Solar Flutuante instalada no Reservatório de Sobradinho, da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF). Trata-se de um projeto de pesquisa e desenvolvimento para avaliar os resultados e sua viabilidade, cujo resultado está previsto para abril de 2022.

A tecnologia poderá ser aplicada ao longo dos 477 km de extensão dos canais de transposição do São Francisco, informou o Ministério de Minas e Energia. Parte da energia gerada poderia alimentar as bombas da própria obra de transposição, enquanto o restante pode ser disponibilizado para consumo da população.

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Desde então, não há notícias de que o projeto tenha avançado. Isso é um indicativo de que o conteúdo é falso, pois uma política de infraestrutura desse porte seria noticiada.

A Codevasf, operadora do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), foi procurada para dizer se já há algum trecho com geração de energia fotovoltaica. O órgão respondeu por e-mail que "não estão sendo empreendidas atividades que visem à instalação de placas voltadas à geração de energia solar".


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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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