Não é verdade que o ministro do STF Luís Roberto Barroso tenha "confessado" que é chantageado pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, por conta de um vídeo de uma orgia com menores de idade em Cuba. A informação tem circulado pelas redes sociais, impulsionada por sipatizantes do presidente Jair Bolsonaro. Um desses posts, feito no dia 14 de fevereiro no Facebook, tem mais de 294 mil visualizações.
A postagem que é objeto dessa verificação é um vídeo de mais de nove minutos que promete "revelar" a confissão do próprio Barroso sobre o caso. O que é mostrado, na verdade, é um trecho fora de contexto de uma fala do ministro do STF sobre o caso enquanto ele citava exemplos de notícias falsas que envolvem o seu nome. A fala original de Barroso foi feita durante um webinar do site de notícias JOTA, realizado no dia 9 de fevereiro de 2022, e que discutia o papel do poder público na regulação de novas tecnologias. Barroso foi um dos convidados do evento.
É possível entender o contexto no próprio vídeo da postagem. Antes de citar o caso, Barroso diz: "Para dar alguns exemplos meus, circula pela internet... chega a ser divertido de tão bizarro" e então ele menciona a notícia falsa. Em seguida, Barroso afirma: "Eu queria dizer que nunca fui a Cuba, não sou dado a orgias e não mantenho nenhum contato nem tenho nenhum tipo de relação com o ex-ministro José Dirceu".
Na transmissão original do evento do JOTA, a partir de 26 minutos e 30 segundos, também é possível perceber que o ministro do STF estava falando sobre a produção e compartilhamento de notícias falsas e os limites da liberdade de expressão. Exatamente antes de citar o caso da orgia, ele diz: "É preciso traçar distinções nesse mundo bizarro, que nós estamos vivendo, em que a mentira virou uma estratégia de destruição e construção de reputações, em um mundo em que o mal parece ter tomado total controle de alguns espaços".
Na segunda-feira, 14, o site Métropoles já havia noticiado que o vídeo da participação do Barroso no webinar havia sido editado com objetivo de espalhar a notícia falsa.
Não é a primeira vez que a notícia falsa envolvendo o nome de Barroso e sua participação em uma orgia ao lado de José Dirceu em Cuba circula. Ao menos desde junho de 2021, um texto com teor semelhante é compartilhado nas redes por simpatizantes de Bolsonaro, conforme mostrou checagem do Boatos.org. A viralização do boato aumentou depois que Bolsonaro utilizou o Twitter para fazer insinuações sobre o caso.
No período em que a notícia falsa começou a circular, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu classificou as alegações como falsas e enviou petição ao STF para que fossem investigadas.