Não é verdade que Amelinha Teles tenha matado militares na ditadura

Mentira foi criada depois que a mulher deu um depoimento no programa eleitoral de Fernando Haddad (PT) sobre a tortura que sofreu

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Por Redação
Atualização:
 

checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas do SBT, Jornal do Commercio e Gazeta do Povo. Outras redações concordaram com a checagem, no processo conhecido como "crosscheck".

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Projeto Comprova é uma coalizão de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022.

Não é verdade que Maria Amélia de Almeida Teles, conhecida por Amelinha Teles, foi condenada por matar militares. Uma imagem circula nas redes sociais Facebook e WhatsApp com a imagem de uma senhora com a seguinte frase "Essa senhora aparece na propaganda do Haddad chorando. Amelinha Teles, junto com seu marido, matou e esquartejou militares em nome da ditadura do proletariado". Amelinha e o marido, Cezar Augusto Teles, não cometeram esse crime e nunca foram acusados, tampouco julgados, por ele.

Amelinha Teles ficou em evidência nas redes após aparecer em um programa eleitoral do candidato à presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, no dia 16 de outubro. Ela deu um depoimento contando como ela e seu marido Cezar Augusto Teles foram presos em dezembro de 1972, torturados e humilhados pelos militares na frente dos filhos após uma violenta sessão de tortura. O TSE determinou a suspensão da veiculação dessa propaganda.

O casal foi preso junto a outros militantes do PC do B. A acusação, na época, era de "agrupamento prejudicial à segurança nacional", e estava relacionada ao que foi classificado como "propaganda escrita" do partido - a edição de jornais, panfletos e artigos com conteúdo supostamente subversivo. O processo é de março de 1973. Ela foi condenada a 7 meses de reclusão.

No trecho em que o documento detalha a atuação de Amelinha no grupo não há qualquer menção ao crime de homicídio. O processo diz que Amelinha e o marido eram responsáveis pelo setor de imprensa do partido, e que a residência do casal havia se tornado um "aparelho" do partido.

"Mantinha estreitos ligamentos com membros da organização e quando da doença de seu espôso mudou-se para outro "aparelho", com recursos fornecidos pelo Partido, onde mimeografou exemplares do jornal "CLASSE OPERÁRIA", auxiliada por Carlos Nicolau Danielli, vulgo "Antonio". Os documentos apreendidos em seu poder são altamente subversivos e bastariam para uma condenação", detalha o processo.

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Amelinha e o marido foram torturados no DOI-CODI/SP. O comandante da unidade era o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que participou das sessões de tortura do casal. Ele foi declarado torturador pela Justiça brasileira em 2008.

O coronel Ustra é frequentemente associado ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro. O presidenciável declarou, em sabatina no programa Roda Viva em julho, que seu livro de cabeceira é "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça", de Ustra. Ele também dedicou à memória de Ustra o voto "sim" pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), acrescentando que ele era o "pavor" da então presidente. Dilma também foi torturada por Ustra durante a ditadura.

A Passeata dos 100 mil, no Rio de Janeiro, contra a ditadura militar Foto: Evandro Teixeira

Tanto no vídeo da campanha do PT quanto em outros depoimentos, como os prestados à Comissão da Verdade e à novela "Amor e Revolução", Amelinha descreve o tipo de tortura a que o casal foi submetido: cadeira do dragão, choques, espancamento e violência psicológica, com ameaças aos filhos. As crianças - Janaína e Edson, na época com 5 e 4 anos, respectivamente - foram levados para verem os pais torturados. Janaína também participou do vídeo da campanha de Haddad, relatando que lembrava de ter sido forçada a ver os pais naquela situação.

Carlos Danielli, que foi preso junto com o casal, morreu numa sessão de tortura. A versão apresentada pelo DOI-CODI/SP era de que ele havia sido morto em tiroteio com policiais após tentativa de fuga. A história foi esclarecida pela Comissão da Verdade.

Após a veiculação do vídeo e da circulação do boato sobre Amelinha, ela passou a sofrer ameaças pelas redes sociais. Amigos gravaram um vídeo em apoio.

A montagem foi enviada para o WhatsApp do Comprova. Postagens sobre o tema em sites e redes sociais foram apagados. Uma das que ainda está no ar é da página Curitiba Contra a Corrupção, e teve 12,1 mil compartilhamentos desde 19 de outubro.

Agência Lupa também já fez esta verificação.

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