Postagens nas redes sociais espalham um vídeo manipulado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para insinuar que o petista afirmou que, no México, 100% das mulheres são mulheres. Com mais de mil compartilhamentos no Facebook, o conteúdo editado distorce declarações do candidato à presidência da República sobre a proporção de mulheres em cargos políticos no país latino.
O boato se apropria de um trecho de um discurso do petista em um ato partidário promovido em Diadema, São Paulo, no dia 9 de julho de 2022. A filmagem completa do evento está disponível no canal do Partido dos Trabalhadores no YouTube. A partir de 2 horas e 14 minutos do vídeo, Lula afirma: "Fui ao México esses dias, 55% dos deputados são mulheres; 45% dos senadores são mulheres; 35% dos prefeitos são mulheres". Em momento algum ele faz a afirmação exibida no conteúdo verificado.
Os números citados por Lula, aliás, são imprecisos. Dados do site da Câmara dos Deputados do México indicam que o país tem 251 parlamentares mulheres (50,2%) e 249 homens (49,8%). Já o portal do Senado mexicano informa que a Casa Legislativa é composta por 64 mulheres e 64 homens. Em 2014, uma reforma eleitoral determinou que partidos políticos deveriam promover a paridade entre candidaturas femininas e masculinas.
Após exibir a declaração editada, o vídeo mostra um rapaz ironizando o Lula. Ele questiona se o ex-presidente seria "doido" por ter feito a afirmação, que não existiu, enquanto é possível ouvir gargalhadas de outras pessoas. Apesar do tom humorístico, a postagem não esclarece que a fala do petista foi manipulada, o que pode enganar usuários nas redes sociais. As agências Lupa e Aos Fatos também desmentiram este boato.
O Estadão Verifica já desmentiu uma série de outros conteúdos que manipulam declarações públicas de Lula. Em dezembro, o blog apurou que uma entrevista do ex-presidente a uma rádio universitária foi editada para parecer que ele falou em 'tomar cerveja junto' com ladrões de celulares. A velocidade de reprodução de outro discurso do petista foi alterada para insinuar que o ex-presidente estava sob efeito de álcool.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.