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Foto antiga de incêndio circula fora de contexto com imagens de manifestação de 2017

Imagem de fogo em prédio do INSS, de 2005, foi utilizada para questionar atuação do STF

Por Pedro Prata
Atualização:

A foto de um incêndio em um prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2005, circula fora de contexto no Facebook juntamente com imagens de um protesto de 2017 contra o governo de Michel Temer (MDB). A publicação diz se tratar de um incêndio no Ministério da Agricultura. Esta postagem foi compartilhada 7,8 mil vezes, por isso o Estadão Verifica decidiu checar.

"Lembremo-nos de 2017, quando 50 terroristas da esquerda, devidamente identificados com bandeiras, atearam fogo em dois ministérios, o da Agricultura e o da Saúde. Alguém lembra se o STF mandou prender alguém por ato terrorista?", questiona a publicação. A postagem acompanha três imagens de uma manifestação violenta e outra de um incêndio de grandes proporções em um prédio.

Foto de incêndio em 2005 circula entre fotos de manifestação de 2017. Foto: Reprodução

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O Estadão Verifica utilizou o mecanismo de busca reversa de imagens do Google para identificar outras vezes em que o registro do incêndio foi publicada. Um dos resultados encontrados foi uma matéria da revista Veja sobre os protestos em Brasília no dia 24 de maio de 2017. Naquele dia, conforme informou o Estadão, manifestantes convocados por centrais sindicais e partidos de oposição protestavam contra as reformas da Previdência e trabalhista, conduzidas pelo governo de Michel Temer (MDB).

A revista informava que o então ministro Osmar Terra (Desenvolvimento Social e Agrário) tuitou a imagem do prédio do INSS, informando se tratar do Ministério da Agricultura por engano. Ele posteriormente assumiu o equívoco. Embora tenha excluído o tuíte original, com a foto trocada, seu pedido de desculpa continua no ar: "Erro de foto. Essa foto é antiga do incêndio do INSS..."

https://twitter.com/OsmarTerra/status/867483732739010560

A foto na verdade é de um incêndio no prédio do INSS no Distrito Federal em 27 de dezembro de 2005. Foi um dos maiores incêndios do DF e atingiu sete dos dez andares do edifício. O fogo consumiu processos contra empresas e entidades filantrópicas em dívida com a Previdência.

O fotógrafo Dida Sampaio, do Estadão, registrou o incidente. Em uma de suas fotos, é possível ver detalhes que comprovam se tratar do mesmo evento: detalhes da estrutura do edifício e a presença de árvores próximas.

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Detalhes da estrutura do edifício e a presença de árvores próximas permitem concluir tratar-se do mesmo evento. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Os protestos contra o governo Temer em 2017 começaram pacíficos, mas acabaram em confrontos entre manifestantes e policiais. Grupos depredaram os prédios dos Ministérios da Fazenda e Agricultura, não da Saúde, como afirma a publicação checada. No edifício da pasta da Agricultura, atearam fogo ao andar térreo do edifício -- e não em vários andares, como sugere a mesma postagem. Os confrontos acabaram motivando o presidente Temer a decretar, a pedido da Câmara, uma ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que permitiu o uso das Forças Armadas em Brasília.

Outras imagens são do protesto

O Estadão Verifica identificou a origem de duas das outras três imagens utilizadas pelo post. Uma delas mostra um manifestante sem camiseta pronto para atirar um objeto no já depredado térreo do Ministério da Agricultura. O registro foi capa do Estadão na edição de 25 de maio de 2017. A foto foi registrada pelo fotógrafo Michael Melo, do site Metrópoles.

Foto foi capa do 'Estadão' no dia seguinte às manifestações. Acervo Estadão Foto: Estadão

A segunda imagem identificada pela reportagem foi publicada pelo jornal Correio*. Ela mostra um grupo de policiais frente a frente com um grupo de manifestantes. A legenda informa tratar-se de reprodução do programa Estúdio I, do canal de notícias Globo News.

Manifestantes e policiais se enfrentaram em protesto contra o governo de Michel Temer, em 2017. Foto: Correio*/Reprodução

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Esse boato também foi checado pelo Aos Fatos.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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