É falso um vídeo que circula nas redes sociais com uma série de supostas mudanças constitucionais que teriam sido oficialmente implantadas na Venezuela. "Ouça o áudio de uma brasileira que teve acesso à nova declaração oficial do governo sobre a nova Constituinte da Venezuela", alega o vídeo. O país de fato teve uma assembleia constituinte entre 2017 e 2020, mas acabou sem promulgar uma nova Constituição. As medidas citadas no vídeo viral têm origem em um post feito no Facebook em 2012.
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Em 2020, circulou na Venezuela um vídeo no qual se lia "Agora sim acabou-se a Venezuela, a segunda Cuba". Nele podia-se ouvir o áudio de uma mulher lendo o que seriam 49 medidas econômicas, políticas e sociais que seriam supostamente implementadas.
Naquele ano, a Assembleia Nacional Constituinte realmente discutia uma reforma constitucional. No entanto, acabou em dezembro sem ter promulgado uma nova Carta Magna. Convocada em 2017 por Maduro, a Constituinte teve o principal efeito de anular o poder da oposição, que comandava a Assembleia Nacional desde 2016. Os opositores do governo se abstiveram de participar da Constituinte, considerando-a ilegal.
A iniciativa de checagem de fatos Chequéalo, do jornal El Diario, identificou que a lista de medidas citadas no vídeo viral é anterior a esse período e tem origem em um post no Facebook da página Operación Libertad Venezuela, de 13 de novembro de 2012.
A postagem dizia que as medidas citadas eram "diretrizes para os anteprojetos de leis a serem promulgadas na Assembleia Nacional nos próximos meses". A página está ligada a uma ONG chamada Fuerza de Paz Venezuela, opositora ao governo de Nicolás Maduro.
A iniciativa de checagem venezuelana Cocuyo Chequea também desmentiu essa peça de desinformação. Eles não encontraram registros das medidas anunciadas no áudio na imprensa local nem entre discursos dos porta-vozes governamentais.
O vídeo imputa as supostas alterações ao presidente Nicolás Maduro. Mas, se as medidas estavam sendo cogitadas em novembro de 2012, não poderiam ser promulgadas por Maduro. Isto porque à época ele era vice-presidente e só assumiria o comando do país em março de 2013, quando morreu o então presidente Hugo Chávez.
Crise política e social na Venezuela
A Venezuela vive uma crise social, política e econômica desde a morte de Hugo Chávez. Manifestantes morreram em protestos de rua, políticos opositores foram cassados ou presos e muitos cumprem exílio.
Em janeiro deste ano, um novo parlamento tomou posse após eleições boicotadas pela maioria da oposição e consideradas nulas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por alguns países latino-americanos. Os governistas passaram a ocupar 256 dos 277 assentos. O principal líder da oposição, Juan Guaidó, tenta manter um Congresso paralelo.
Enquanto isso, uma pesquisa realizada anualmente por três grandes universidades venezuelanas mostra que a pobreza aumenta no país. Como mostrou o site de checagem Cotejo, em 2020, a pobreza estrutural atingia 96,2% da população e a pobreza extrema, 79,3%.