É falso tuíte de Bolsonaro com crítica a padres e bispos sobre campanha em Aparecida

Postagem não aparece no perfil do presidente e candidato à reeleição, nem foi captado por conta automatizada que encontra postagens apagadas por políticos

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Por Clarissa Pacheco
Atualização:

É falso que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) tenha publicado um tuíte em que diz lamentar as cenas de tumulto no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, mas que nenhum padre ou bispo deve dizer onde ele pode ou não fazer campanha. Uma imagem do suposto tuíte começou a circular depois da passagem de Bolsonaro por Aparecida - a CNN Brasil transmitiu imagens que mostram que apoiadores causaram tumulto e hostilizaram a imprensa. O arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, disse que Bolsonaro seria bem recebido, mas cobrou as pessoas tivessem uma identidade religiosa: "Ou somos evangélicos, ou somos católicos".

 Foto: Estadão

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A imagem que circula nas redes imita a aparência de um tuíte verdadeiro: tem o mesmo nome usado pelo presidente (Jair M. Bolsonaro), o número de urna dele ao lado (22), a mesmo nome de usuário (@jairbolsonaro), a mesma foto e uma sinalização de que ele é candidato à Presidência do Brasil. O post teria sido feito às 20h27 do dia 12 de outubro de 2022, feriado pelo dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

No entanto, não há registro de nenhum tuíte feito por Bolsonaro no dia 12 com estes termos, nem anteriores a esta data. O texto supostamente postado pelo presidente diz: "Lamento as cenas de tumulto que ocorreram em Aparecida durante a minha visita. Mas acho que nenhum padre ou bispo deve dizer onde posso ou não fazer campanha. A postura arrogante de alguns religiosos explica o crescimento da igreja evangélica e o fracasso da igreja de Roma".

O Estadão Verifica procurou por estes termos no histórico de tuítes de Bolsonaro e não encontrou nenhuma publicação com eles,

sobretudo com a expressão "igreja de Roma", para se referir à Igreja Católica Apostólica Romana. O Projeto 7c0, uma conta automatizada no Twitter que identifica tuítes apagados por políticos, também não identificou a suposta publicação em sua base de dados, apontando o print do suposto tuíte como uma">" target="_blank" rel="noopener">muito provável manipulação.

Bolsonaro publicou dois tuítes sobre a visita ao Santuário de Aparecida, nesta quarta-feira. O primeiro mostra um vídeo em que ele entra na igreja, e o segundo, um agradecimento ao apoio dos católicos.

Reprimenda do arcebispo

Durante a passagem de Bolsonaro pelo Santuário de Aparecida, na tarde desta quarta-feira, apoiadores do presidente causaram tumulto no local, vaiaram o padre que celebrava a missa das 14h e hostilizaram equipes da imprensa que cobriam as comemorações pelo dia da padroeira. Antes de ir a Aparecida, Bolsonaro tinha participado de um ato em trio elétrico com o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, em Belo Horizonte (MG).

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Ao final da principal missa do dia, pela manhã, depois de ser perguntado sobre a presença de Bolsonaro prevista para o período da tarde, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, disse que era preciso ter uma identidade religiosa. "Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas, seja qual for a intenção, (Bolsonaro) vai ser bem recebido, pois é o nosso presidente", afirmou.

Em outra celebração ao longo do dia, sem citar nomes, o padre Camilo Junior pediu aplausos para quem tinha ido à igreja rezar e disse que "hoje não é dia de pedir voto, hoje é dia de pedir bênção".

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