É falso que duas pessoas que invadiram o Capitólio em Washington, nos Estados Unidos, sejam integrantes "infiltrados" do movimento antifascista. Uma publicação no site bolsonarista Terça Livre e postagens no Facebook afirmam que um homem de rosto pintado e chapéu com chifres e um rapaz de cabelos longos e moletom amarelo não são apoiadores do presidente Donald Trump, o que não é verdade. Veja os dois na foto abaixo.
O homem de rosto pintado é Jake Angeli, um conhecido apoiador da teoria da conspiração de extrema-direita QAnon. Em seu canal de YouTube ele se identifica como "Lobo de Yellowstone" e, segundo a agência EFE, costuma frequentar protestos pró-Trump em Phoenix, no Arizona.
Angeli foi fotografado em um protesto do movimento Black Lives Matter em junho no Arizona, e essa foto tem sido usada como "prova" de que ele seria um infiltrado. A imagem, no entanto, foi cortada, e não mostra que Jake segurava um cartaz com os dizeres "Q me mandou", em referência à teoria da conspiração. Um usuário do Twitter que disse ser o autor da imagem afirmou que o apoiador de Trump foi ao protesto para instigar brigas.
Não há evidências que o outro homem acusado de ser "infiltrado" se identifique com o movimento antifascista. O site Terça Livre afirma que o rapaz de moletom amarelo tem uma tatuagem que seria um "símbolo comunista ou antifa". Esta reportagem da Folha de S. Paulo mostrou, no entanto, que a tattoo faz referência a um jogo de videogame chamado Dishonored. Veja uma imagem aqui.
O Terça Livre diz ainda que o rapaz de cabelo longo faria parte da organização Philly Antifa, da Filadélfia. Mas como apontou a Agência Lupa nesta checagem, o "infiltrado" aparece um uma publicação que denuncia um neonazista chamado Jason Tankersley.
Os sites Politifact e Snopes também publicaram checagens semelhantes.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.