Atualizada às 12h58 para corrigir informação sobre data da concessão da Dutra.
Circula fora de contexto no Facebook o vídeo de um projeto para a construção de novas pistas no trecho da Rodovia Presidente Dutra (BR-116) que passa pela Serra das Araras, no Estado do Rio. O vídeo anuncia um novo traçado, com 17 viadutos, para reduzir o tempo de percurso de motoristas. Uma postagem do vídeo de 14 de janeiro alcançou 33 mil compartilhamentos, sem explicar que na realidade o projeto é de 2016 e não deve ser implementado como mostrado nas imagens.
Nos comentários da postagem, vários usuários parabenizam o presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo projeto. Na verdade, o novo traçado foi proposto pela concessionária CCR Nova Dutra e pela Agência Nacional de Transportes (ANTT) em 2016, como mostra esse anúncio publicado no jornal O Globo.
Alguns trechos do vídeo que viralizou fora de contexto no Facebook podem ser vistos nesta reportagem de novembro de 2016 da TV Rio Sul, afiliada da Rede Globo. A matéria mostra o plano de construir uma via suspensa sobre a Mata Atlântica com grandes pilares. O vídeo da CCR sobre o projeto tinha sido publicado pela concessionária em seu canal de YouTube, mas foi retirado do ar. É possível ver a página arquivada no Google (abaixo).
Na época em que o projeto foi divulgado, a concessionária afirmou que o trecho entre Piraí e Piracambi tem curvas sinuosas que dificultam a circulação de cargas. O projeto de remodelação incluiria 17 viadutos e pontes e um túnel de 430 metros de extensão. No entanto, segundo a CCR, para realização da obra naquele momento seriam necessários mais investimentos -- seja com repasse no preço do pedágio, com aporte do governo federal, ou com extensão da concessão da rodovia.
Em outubro de 2021, a Dutra foi relicitada, após 25 anos de administração da CCR. A empresa venceu o leilão e renovou a concessão por mais 30 anos ao oferecer o desconto máximo de 15,31% sobre o valor da tarifa de pedágio e valor de outorga de R$ 1,8 bilhão. Ao todo, deve investir R$ 15 bilhões em obras e renovações.
Para o trecho da Serra das Araras, foi anunciada uma obra de duplicação de 16 km, com quatro faixas de rolamento em cada sentido, túnel e viadutos. O projeto, no entanto, não deve ser o mesmo que o mostrado no vídeo do Facebook, segundo informou a assessoria de imprensa da CCR por telefone.
Em nota ao Verifica, a concessionária explicou que a assinatura do contrato da nova concessão deve ocorrer este mês; a nova licitação passa a valer em 1º de março. "Somente após a assinatura do contrato a nova empresa poderá responder pelos serviços que serão realizados na rodovia", afirmou a empresa.
O site da ANTT informa o andamento do projeto de concessão da Dutra, que aguarda assinatura do contrato. Segundo o documento do Programa de Exploração da Rodovia, a concessionária deve construir uma nova pista ascendente na Serra das Araras; a pista atual deve ser readequada para a descida de veículos. Ao todo, devem ser implementadas quatro faixas. O novo traçado deve ficar a, no máximo, 100 metros do original. As obras devem começar a partir do 6º ano de concessão. Não há mais detalhamento do projeto.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.