Pedro Prata
27 de outubro de 2020 | 19h12
Uma postagem tira de contexto a foto de um cristal de quartzo de quatro toneladas para dizer que o mineral teria sido extraído na Amazônia por estrangeiros. A pedra, na verdade, foi extraída em Minas Gerais e comercializada por uma empresa brasileira de cristais. A postagem checada pelo Estadão Verifica já foi compartilhada ao menos 13 mil vezes no Facebook.
“Gigantesco cristal de quartzo de quatro toneladas extraído no Brasil pelos gringos. Essa é somente uma das ‘girafas’ da Amazônia que a França e outros países bonzinhos querem tanto ‘proteger’!”, diz a postagem.
Foto: Reprodução
O mecanismo de busca reversa do Google permitiu encontrar outras vezes em que a mesma imagem foi publicada. A primeira versão da foto foi postada pela página Earths Rare Minerals em 2 de fevereiro de 2018. A postagem dá conta da dimensão do cristal e afirma que a pedra foi extraída no Brasil, além de informar que pertence a uma empresa brasileira.
Por e-mail, o proprietário da empresa confirmou ao Estadão Verifica que o cristal era seu. Disse que as pedras que comercializa possuem documentação e são oriundos de “um garimpo que faz parte de uma cooperativa no interior de Minas Gerais”. Assim, negou que o cristal tivesse sido extraído na Amazônia e que tivesse sido comercializado por milhões de dólares.
Ele também disse que entrou em contato com a autora do post para resolução de forma “rápida e extrajudicial” do ocorrido. Do contrário, pensa em tomar as medidas judiciais cabíveis.
“O post teve mais de 13 mil compartilhamentos até agora, o que nos causa prejuízos de ordem material e moral, face abalo na credibilidade perante os nossos clientes, fornecedores, familiares e amigos”, disse.
A imagem viralizou fora de contexto em um momento em que o Brasil sofre pressão internacional para tomar medidas de preservação do meio ambiente. O governo federal adota postura de acusar os outros países de protecionismo e de interesse em explorar a Amazônia.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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