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Em convenção com o PSB, Lula exagera dados sobre a venda de carros em seu governo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta sexta-feira, 29, na convenção do PSB que definiu o ex-governador Geraldo Alckmin como seu companheiro de chapa na disputa à Presidência. O petista exagerou dados sobre venda de carros. Veja a checagem do Estadão Verifica abaixo.

Foto do author Samuel Lima
Por Alessandra Monnerat , Clarissa Pacheco , Pedro Prata , Samuel Lima e Victor Pinheiro
Atualização:

Ex-presidente Lula em convenção que fechou candidatura de Geraldo Alckmin (PSB) a vice em sua chapa à presidência. Foto: YouTube/@Lula/Reprodução

Agricultura familiar

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O que Lula disse: que durante sua gestão, cidades pequenas compravam 30% do alimento da agricultura familiar.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro, mas falta contexto. Lula refere-se ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), de 2009. O PNAE fornece dinheiro para Estados e municípios, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para compra de alimentos nas escolas. A lei 11.947 prevê que ao menos 30% dos gêneros alimentícios comprados com essa verba devem ser provenientes da agricultura familiar. Ao contrário do que Lula sugeriu, o PNAE continua vigente até hoje.

 

PAC

O que Lula disse: que o PAC foi o maior programa de infraestrutura que esse país conheceu e um dos que mais geraram empregos.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é controverso. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi um plano criado pelo governo Lula, em 2007, e reeditado pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2011, para estimular a economia e a geração de empregos a partir de investimentos públicos em áreas como transporte, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos. 

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), a primeira fase do programa previu investimentos de R$ 503,9 bilhões entre 2007 e 2010 (PAC 1) -- foram executados R$ 444 milhões no período, o equivalente a 88%. O PAC 2 de 2011 a 2014, que deu continuidade a obras do quadriênio anterior e alocou recursos para novos empreendimentos, teve uma previsão inicial total de R$ 708 bilhões e executou, até o final do período, montante global de R$ 796,4 bilhões.

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Não encontramos bases de dados disponíveis para checar se o PAC é o programa com mais investimentos em infraestrutura da história do Brasil, nem estimativas oficiais de criação de empregos diretos. Especialistas reconhecem impacto positivo nesse indicador, ao mesmo tempo em que há críticas sobre custos dos contratos, atrasos na entrega das obras e desequilíbrio fiscal.

PAC 1

PAC 2

 

Venda de carros

O que Lula disse: que o Brasil vendia 3,8 milhões de carros por ano em 2010 e a quantidade passou para 2 milhões em 2022.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é exagerado. Segundo dados da Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores (Fenabrave), o Brasil terminou o ano de 2010 com 3.328.864 emplacamentos novos de carros. Considerando também ônibus e caminhões, o número cheegou a 3.515.120  -  um recorde. 

Este ano está incompleto, portanto, a comparação adequada deve ser com 2021. No ano passado, foram comercializados 1.974.431 automóveis novos no País.

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PIB e indústria automobilística

O que Lula disse: a indústria automobilística representava 23% do PIB do País no governo dele, e vai representar em 2022 ano apenas 7% do PIB industrial.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Em 2015, a indústria automobilística representava 23% do PIB industrial e 5% do PIB nacional, mas Lula não era o presidente naquele ano, e sim Dilma Rousseff (PT). Nos governos Lula, a participação da indústria automobilística no PIB da indústria variou de 12,5% em 2003 a 19,5% em 2010, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Dados Anfavea

No Anuário da Indústria Automobilística de 2022, a Anfavea divulgou apenas que a participação do setor no PIB da indústria de transformação foi de 20%, enquanto no PIB nacional foi de 2,5%. Ainda não há dados para 2020, 2021 e 2022.

Anuário da Indústria Automobilística de 2022

 

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Indicação de nomes para o governo

O que Lula disse: que não tinha presidente do Banco Central na metade de dezembro de 2002 -- por engano citou o ano de 2003 -- e comandante das Forças Armadas a 10 dias de tomar posse.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. Lula anunciou a escolha do engenheiro Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston, para ser o presidente do Banco Central na metade de dezembro de 2002, precisamente no dia 12 daquele mês, segundo noticiado pela imprensa. 

Os nomes dos comandantes do Exército (Francisco Roberto de Albuquerque), da Marinha (Roberto Guimarães de Carvalho) e da Aeronáutica (Luiz Carlos Bueno) foram conhecidos em 27 de dezembro de 2002, portanto, a menos de 10 dias de sua posse. O petista usou o critério da antiguidade para definir os chefes militares. 

Já o nome do seu primeiro ministro da Defesa, o diplomata José Viegas, tornou-se conhecido em 24 de dezembro de 2002.

Bolsonaro e reitores

O que Lula disse: que o Brasil tem um presidente que nunca recebeu um reitor, seja de universidade ou de escola técnica.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é exagerado, ainda que o número de encontros oficiais seja baixo. A agenda do presidente Jair Bolsonaro (PL) registra que ele recebeu ao menos dois reitores durante seu mandato: Valdiney Gouveia, da Universidade Federal da Paraíba, em 31 de março de 2021; e Evaldo Antônio, Reitor da Fundação Universidade de Caxias do Sul, em 12 de fevereiro de 2020.

 

Fome no mundo 

O que Lula disse: que não é normal ter 900 milhões de pessoas passando fome no mundo. 

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é exagerado. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em julho deste ano, a estimativa mais recente é de que 828 milhões de pessoas estão sendo afetadas pela fome, o equivalente a 9,8% da população global. O indicador apresentou piora com a pandemia de covid-19.

 

Desemprego 

O que Lula disse: que o desemprego no Brasil está pior agora do que no início de 2003

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Em 2002, ano anterior ao primeiro governo Lula, a taxa de desemprego no Brasil era de 11,7%. O índice cresceu em 2003 e alcançou 12,3% ao final do ano. Naquela época, a taxa de desemprego tinha um cálculo feito pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME). A partir de 2013, o cálculo começou a ser feito anualmente e a média chegou a 5,4%.

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Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, a taxa de desemprego ficou em 11,9%. Em 2020, a média chegou a 13,5%, e em 2021, a 13,2%. A taxa atual de desemprego no Brasil é de 9,3%, segundo dados divulgados pelo IBGE por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), e corresponde ao segundo trimestre de 2022. Essa é a menor taxa do governo Bolsonaro, que teve o pico de desemprego de 14,9% registrado em dois momentos: no terceiro trimestre de 2020 e no primeiro trimestre de 2021.

 

Salário mínimo

O que Lula disse: que o aumento nos salários está menor atualmente do que em seu governo e que "faz tempo que não aumenta o salário mínimo".

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. O ex-presidente refere-se ao ganho real do salário mínimo, que não ocorre desde o começo de 2019. Até aquele ano, vigorou a política de valorização do salário mínimo, aprovada na gestão de Dilma Rousseff, que compensava a perda causada pela inflação somada à variação do PIB. Em 2016 e 2017 apenas a inflação foi incorporada ao salário mínimo porque nos anos anteriores o País teve retração no PIB.

Desde que assumiu, o governo Bolsonaro optou por conceder apenas a reposição da inflação. O principal motivo é o fato de o salário mínimo ser base para a correção da aposentadoria e alguns benefícios sociais.

Os governos de Lula e Dilma são reconhecidos pela política de valorização do salário mínimo.

 

Concessão de rodovias

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O que Lula disse: Governos do PT concederam 8.600 km de rodovias federais, contra 3.000 km do governo Bolsonaro. Além disso, 80% das concessões foram preparadas pelo governo da Dilma. O Temer fez apenas 300 km.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é impreciso. Um levantamento do Estadão Verifica a partir do site do Ministério da Infraestrutura confirma que o PT concedeu cerca de 8.600 km de rodovias federais, enquanto o governo Bolsonaro o fez com aproximadamente 3.200 km. Lula, porém, comparou quase 13 anos de um governo com três anos e meio de outro. O PT concedeu, em média, 666 quilômetros de rodovias por ano, frente a 800 km do governo Bolsonaro. 

Além disso, o ex-presidente omitiu que uma parte significativa das concessões efetuadas pelo PT devem ser relicitadas antes do cumprimento contratual, após devolução das concessionárias. É o caso da Autopista Fluminense e Rodovia do Aço (BR-383), ambas concedidas em 2008, e da MS VIA (BR-163/MS), Concebra (BR-060/153/262), ROTA do Oeste (BR-163/MT) e a Via-040, cujos contratos foram assinados em 2014. Todas elas somam um total de 4,3 mil km de vias.

Outro lado

Estadão Verifica solicitou um posicionamento para a assessoria de Lula, mas não obteve resposta até a publicação.

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