PUBLICIDADE

Brasileiros criaram máquina de testes de covid-19, mas produto ainda está em testes e não tem preço

Publicações nas redes sociais fazem afirmações enganosas sobre o aparelho, que não foi analisado pela Anvisa

Por Victor Pinheiro
Atualização:

Uma dupla de capixabas diz ter desenvolvido uma máquina capaz de efetuar testes de diagnóstico para covid-19 em apenas dez segundos. O produto foi apresentado por um ex-vereador na Câmara Municipal da cidade de Serra, no Espírito Santo, em dezembro. Desde então, mensagens nas redes sociais compartilham informações descontextualizadas sobre o produto, incluindo afirmações imprecisas acerca do preço estimado dos exames -- que ainda não foram estabelecidos.

PUBLICIDADE

O produto ainda não foi analisado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e não há dados publicados sobre sua eficácia. A Secretaria Estadual da Saúde do Espírito Santo confirmou ao Estadão Verifica que estabeleceu uma parceria "para colaboração no desenvolvimento e validação do método" do aparelho, mas o acordo ainda está em "fase inicial de tratativas".

Uma publicação no Facebook afirma que a máquina de testes tem "custo mínimo, (...) 'quase' R$ 0,00!". O cientista da Computação Sergio Schirmer, que é um dos responsáveis pelo projeto e hoje mora na Califórnia (EUA), explicou ao Estadão Verifica que a tecnologia ainda está em fase de testes e ainda depende do aval da Anvisa para chegar ao mercado brasileiro. Segundo ele, a intenção é desenvolver uma alternativa mais barata que outros exames, mas ainda não há estimativas de quanto o novo método pode custar.

 Foto: Estadão

Como funciona a máquina

O aparelho é desenvolvido há pelo menos três anos por Schirmer em parceria com o engenheiro eletricista Williams Dias. Os dois são sócios em uma startup chamada Radiolife. A ideia que deu origem à companhia era elaborar um sistema capaz de diagnosticar câncer, mas com a pandemia a dupla adaptou a proposta para atender a demanda por testes de covid-19.

Eles desenvolveram uma tecnologia de radiofrequência para detectar sinais do novo coronavírus em amostras de salivas de pacientes. Schirmer compara o funcionamento do produto a um aparelho de microondas. "O microondas envia uma frequência específica que 'ressona' somente com a molécula da água. A nossa tecnologia funciona com um princípio semelhante. [A máquina] pode 'ressonar' com o RNA ou proteínas do vírus", explicou.

O cientista pontua que a startup fez parcerias com laboratórios nacionais para comparar os resultados com testes RT-PCR, o exame molecular que coleta amostras das vias respiratórias dos pacientes com um cotonete extenso e é considerado o padrão-ouro para a detecção da covid-19.

Publicidade

Os estudos também ajudaram a treinar a inteligência artificial da máquina a reconhecer o espectro de frequência do novo coronavírus. Schirmer afirma que resultados preliminares indicam que a máquina tem uma sensibilidade (probabilidade de apontar corretamente que uma pessoa está doente) próxima ao de exames RT-PCR para covid-19. Esses dados, no entanto, ainda precisam ser validados por agências reguladoras e não foram disponibilizados publicamente pela startup.

Preço indefinido

Segundo Schirmer, ainda não é possível estimar um custo para a aplicação dos testes. "Nós estamos conversando com indústrias para licenciar nossa tecnologia de forma que elas possam produzir o equipamento com a estrutura já existente. Tudo isso vai determinar o preço dos testes", afirmou. Ele pontua, no entanto, que a proposta é que um preço reduzido viabilize a adoção do equipamento em massa e amplie o alcance dos exames de covid-19.

Sobre os posts que dizem que o método deve custar quase zero reais, Schirner acredita que houve uma confusão com a fala do vereador que apresentou o produto. "Acho que ele quis dizer especificamente que a nossa tecnologia não exige o uso de reagentes". Segundo ele, o único custo que pode existir além do equipamento é o tubo de ensaio usado para armazenar a amostra da saliva dos pacientes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.