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Homem abraçado com colega militar em foto não é Bolsonaro

Imagem em preto e branco foi compartilhada originalmente em blog sobre história LGBT nas Forças Armadas dos EUA

Por Alessandra Monnerat
Atualização:

Não é o presidente Jair Bolsonaro (PL) o homem que aparece abraçado a um militar em uma fotografia preto e branco. A imagem voltou a circular nas redes sociais nesta semana, depois que uma mulher foi detida por xingar o presidente em Resende (RJ). Boatos online alegavam que ela teria chamado Bolsonaro de "noivinha do Aristides", em referência pejorativa a um suposto relacionamento homoafetivo. Posteriormente, os advogados da mulher detida afirmaram que ela nunca usou esse termo. 

A imagem dos dois militares abraçados circula na internet pelo menos desde 2017. O exemplo mais antigo é do blog "Homo History", que compartilhou a fotografia em uma postagem sobre o Memorial Day, feriado norte-americano em homenagem a militares que morreram em combate. A publicação não explica quem são os homens na foto nem em que ano o registro foi feito. "Essas fotos vintage representam apenas um pequeno fragmento de nossa história LGBT nas forças armadas", afirma a postagem. "Infelizmente, grande parte dela foi destruída propositalmente. Como os militares dessas fotos são desconhecidos, é praticamente impossível dizer se eram casais gays ou apenas 'bons amigos'."

 Foto: Estadão

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O Estadão Verifica entrou em contato com o autor do blog para pedir mais informações sobre a foto, mas não obteve resposta. De qualquer forma, os uniformes das pessoas retratadas não são parecidos com os que Bolsonaro usava em seu tempo de militar. Em diferentes imagens de arquivo publicadas pela imprensa, o presidente usa uniformes com detalhes distintos nos ombros e nas golas (veja exemplos no G1,El País, Folha de S. Paulo e O Globo).

Segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV), Bolsonaro serviu como capitão no 8º Grupo de Artilharia de Campanha e teve formação como paraquedista. Nesta foto publicada por O Globo, ele aparece com uma boina com o símbolo de um pára-quedas -- bem diferente do quepe usado pelos homens na foto viralizada.

Imagem tem origem provável na Segunda Guerra Mundial

Os uniformes usados pelos soldados na foto parecem com os de agentes americanos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Bolsonaro nasceu em 1955, dez anos após o fim do conflito.

O quepe do homem à direita -- cáqui, com costura preta que desce até a orelha -- é bastante similar ao utilizado por militares norte-americanos no verão. É possível encontrar réplicas à venda em sites especializados (1, 2). 

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A revista Life publicou em maio de 1941 um catálogo com todos os uniformes utilizados pelas Forças Armadas dos EUA na guerra. Na página 75, há soldados vestindo roupas semelhantes às mostradas na foto, tanto em cáqui como em verde oliva. 

Procuramos a Biblioteca do Congresso Americano, que tem um extenso acervo de imagens da história dos EUA, para confirmar se a imagem realmente mostra soldados americanos. A instituição informou que, como os militares na foto não usam insígnias no chapéu ou nas roupas, não é possível assegurar que eles pertencem ao Exército do país.

"Realmente parecem ser uniformes do Exército dos EUA durante a metade do século 20. A cor do contorno dos quepes variava de acordo com a seção do Exército em que os militares se encontravam", informou a biblioteca, acrescentando que a imagem parece fazer parte de uma coleção pessoal.

Termo homofóbico viralizou no Twitter

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O termo "noivinha do Aristides" foi um dos mais comentados no Twitter no início da semana. A frase viralizou após uma mulher ter gritado ofensas a Bolsonaro durante visita do presidente a Resende, no Rio de Janeiro. Ela foi detida pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e levada para a sede da Polícia Federal (PF).

A Folha de S. Paulo teve acesso ao boletim de ocorrência registrado pela corporação. O documento informa que a mulher usou palavras de "baixo calão" e que teria dito "Bolsonaro filho da p***". Não há menção ao apelido pejorativo "noivinha". Posteriormente, a mulher afirmou nunca ter se referido ao presidente com o termo homofóbico.

Em nota, a PRF informou ao Estadão Verifica que "a passageira de um veículo gritou palavras que configurariam a princípio o crime de injúria contra o presidente", sem informar quais seriam essas palavras. 

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