Automedicação em casos de covid-19 é perigosa; não siga receitas de redes sociais

Medicamentos que aparecem em publicação no Facebook não possuem evidência científica de sua eficácia

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Por Pedro Prata
Atualização:

Uma publicação no Facebook informa a suposta prescrição de três medicamentos para tratar a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. O post traz a recomendação sobre a azitromicina e a ivermectina, medicamentos que apresentaram resultado positivo em laboratório mas que ainda não têm eficácia em humanos comprovada. As duas já foram objeto de boatos anteriormente checados pelo Estadão Verifica e ainda não possuem comprovação científica. A foto também traz a imagem do expectorante acetilcisteína.

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Muitas drogas apresentam bons resultados nos testes feitos em laboratório, mas não se mostram eficazes no corpo humano, diz Guilherme Spaziani, infectologista do Instituto Emílio Ribas. "Uma coisa é (o resultado) in vitro-- isto é, em laboratório. Outra coisa é a pessoa tomar o remédio na prática, o remédio ser absorvido pelo corpo e fazer a ação de curar a doença."

A ivermectina é um medicamento utilizado para tratar infestações de parasitas como piolho e sarna. Como o Estadão Verifica já mostrou, o fármaco entrou no panorama da pandemia depois que uma pesquisa da universidade de Monash, na Austrália, identificou que uma dose do medicamento reduziu em até 100% a presença do novo coronavírus em uma cultura de células. No entanto, o grupo de pesquisadores ressalta que o remédio não pode ser usado para tratar a covid-19 até que sejam concluídos testes clínicos para se comprovar a sua eficiência em dosagens seguras para os seres humanos. "O potencial uso de ivermectina para tratamento do coronavírus permanece não provado e depende de testes clínicos para avançar", disse a universidade.

Muitas drogas possuem apresentam bons resultados nos testes feitos em laboratório, mas não se mostram eficazes no corpo humano, diz o infectologista Guilherme Spaziani. Foto: Reprodução

Por sua vez, a azitromicina é um antibiótico -- isto é, medicamento utilizado para combater infecções causadas por bactérias. A medicação foi combinada ao antimalárico cloroquina e hidroxicloroquina em estudos laboratoriais. Em maio, as sociedades brasileiras de Infectologia, Medicina Intensiva e Pneumologia e Tisiologia publicaram diretrizes para o tratamento farmacológico no qual foram contra a recomendação do uso de rotina destes medicamentos pela baixa evidência que apresentaram no tratamento da covid-19.

O expectorante acetilcisteína ajuda a eliminar secreções acumuladas no pulmão. É, portanto, um medicamento para combater um dos sintomas da covid-19, mas não cura a doença.

Publicações em redes sociais que compartilham informações sem comprovação científica sobre tratamentos podem levar à falta de medicamentos nas farmácias. Pesquisa do Conselho Federal de Farmácia constatou aumento de até 180% na venda de produtos sem qualquer eficácia comprovada na luta contra a covid-19.

Em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tornou controlados remédios à base de cloroquina e hidroxicloroquina. Isso quer dizer que os medicamentos passaram a ser adquiridos com controle especial. O órgão federal tomou a decisão após o remédio -- utilizado para tratar malária e doenças reumáticas -- faltar nas prateleiras das farmácias.

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"Os remédios são drogas. Eles podem ter tanto a ação para curar doença como a ação de um veneno", ressalta Spaziani. O infectologista alerta para os riscos de se misturar remédios e somar os seus efeitos colaterais. "A automedicação é perigosa porque a pessoa que não estudou medicina não tem capacidade de distinguir quando a droga está fazendo mal e o que fazer para evitar os efeitos colaterais."

Ainda não há cura para a covid-19

No momento, a melhor forma de se prevenir é lavar as mãos com água e sabão e evitar contato próximo com pessoas resfriadas. Evite tocar no rosto. Importante cobrir o nariz e a boca com o braço ao espirrar. E se estiver doente, o melhor é ficar em casa. Evite sempre aglomerações.

Muitas pesquisas ao redor do mundo procuram um tratamento eficaz para combater a pandemia da covid-19. Mas até o momento não há medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo novo coronavírus. O Ministério da Saúde mantém um site atualizado com as informações mais recentes e confiáveis sobre a doença. Clique aqui.

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O Estadão Verifica já checou boatos com receitas caseiras que de nada adiantam e podem até fazer mal -- como tomar limão com bicarbonato. Outros perfis nas redes sociais são mais criativos e procuram a cura na mistura de jambu, alho e limão, mas tampouco a encontrarão dessa forma.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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