Foto de encenação no Reino Unido em 2014 circula como se fosse do Afeganistão

Ativistas curdos protestavam contra tráfico sexual promovido pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque

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Por Alessandra Monnerat
Atualização:

O Taleban é um movimento que comete atrocidades contra mulheres, mas nem tudo o que circula como denúncia desses crimes é verdade. Por exemplo, a foto de um protesto contra o Estado Islâmico, organizado no Reino Unido em 2014, circula no Facebook como se fosse um registro recente no Afeganistão. A imagem mostra um homem segurando mulheres acorrentadas e cobertas por véus pretos. A fotografia foi feita durante uma encenação de ativistas curdos, que tentavam chamar a atenção para o tráfico de mulheres pelo grupo terrorista no Iraque e na Síria.

Para encontrar a origem da imagem compartilhada no Facebook, usamos a ferramenta de busca reversa do Bing (aprenda aqui como usar). Encontramos resultados relacionados a uma manifestação organizada pelo grupo Compassion 4 Kurdistan em Londres. Os ativistas fizeram uma encenação de um "mercado de escravas sexuais do Estado Islâmico". Quatro atrizes vestidas com niqabs (véus que revelam apenas os olhos) ficavam acorrentadas e eram vendidas por um homem com um megafone.

 Foto: Estadão

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Um dos ativistas do grupo, Ari Murad, disse na época à BBC que as "histórias eram tão horríveis que tínhamos que fazer algo sobre". Em outubro de 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório que informava que 150 mulheres foram traficadas do Iraque para a Síria para serem vendidas como escravas sexuais ou soldados.

A agência de checagem indiana Alt News encontrou vídeos e fotos do protesto de 2014 publicadas no Facebook. Veja abaixo. 

Como é a situação para mulheres afegãs

Desde que Taleban voltou ao poder no Afeganistão, teme-se que o grupo extremista volte a impor restrições draconianas às mulheres do país. Entre 1996 e 2001, período do primeiro regime do Taleban, meninas com mais de oito anos não podiam estudar, mulheres eram proibidas de trabalhar ou sair de casa sem um acompanhante do sexo masculino e o uso de burca (véu que cobre todo o corpo, deixando apenas uma tela para os olhos) era obrigatório. Acusadas de adultério eram apedrejadas ou açoitadas.

Na semana passada, o grupo anunciou que permitiria que mulheres trabalhassem, "respeitando os princípios do Islã". A medida foi vista com desconfiança, já que, segundo relatos de agências internacionais, mesmo antes de derrubar o governo, o Taleban começou a aterrorizar mulheres e meninas com ameaças de casamentos forçados, sequestro de mulheres e violência física em territórios já conquistados.

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