Advogado de Trump faz alegações falsas de fraude em vídeo que circula no WhatsApp

Ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani afirma enganosamente que 138 mil cédulas a favor de Biden teriam sido 'encontradas no meio da noite' em Wisconsin

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Por Victor Pinheiro
Atualização:

Um vídeo de autoria do ex-prefeito de Nova York e advogado de Donald Trump, Rudy Giuliani, espalha informações falsas a respeito das eleições presidenciais norte-americanas. O advogado insinua que houve fraudes no processo de contagem de votos e afirma enganosamente que 138 mil cédulas a favor do candidato democrata Joe Biden teriam sido "encontradas no meio da noite" em Milwaukee, no estado de Wisconsin. Autoridades eleitorais dos 50 estados americanos já disseram não ter encontrado qualquer indício de que o resultado da votação tenha sido alterado por fraudes.

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O vídeo de Giuliani foi enviado por um leitor ao WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490. O boato espalhado pelo advogado de Trump tem origem em distorções de um gráfico do site americano de estatísticas FiveThirtyEight, que mostrou um aumento acentuado no número de votos do candidato democrata Joe Biden por volta das 4 horas da manhã na madrugada após a eleição. Como aponta uma verificação do site de fact-checking Politifact, no entanto, o salto não tem nada de fraudulento e é consequência do processo eleitoral de Milwaukee. 

Rudolph Giuliani, advogado de Trump. Foto: Erin Schaff/The New York Times

Em conferência de imprensa na manhã do dia 4, a diretora da Comissão Eleitoral de Wisconsin, Meagan Wolfe, afirmou que funcionários trabalharam até as 3h30 para contar votos enviados por correio e negou a ocorrência de fraudes. Uma nota do órgão, publicada em fevereiro, explica que as leis estaduais não permitem que a contagem seja interrompida até que todos os votos do serviço postal sejam apurados. 

A comissão explica ainda que 39 cidades, incluindo municípios do condado de Milwaukee, apuram as cédulas enviadas pelo correio em instalações centrais de contagem, enquanto outras contabilizam os votos nos locais de votação presencial. Segundo o Politifact, entre as 3h26 e 3h44 da madrugada, foram contabilizados 149 mil votos para Biden e 31 mil para Trump. Diferente do que afirma Giuliani, nem todos foram destinados ao candidato democrata. 

O salto na quantidade de votos ocorreu porque os resultados das apuração dos centros de contagem foram informados de uma só vez. Outra nota da Comissão Eleitoral de Wisconsin, publicada em maio, indica que grandes picos na contagem das cédulas já eram esperados na apuração. 

"Neste processo, todos os votos por correio são contados numa instalação central e não nos locais de votação individual. Você verá os resultados dos locais de votação já consolidados, enquanto cédulas ainda serão apuradas nos centros de contagem", afirma o texto. "Somente quando todos os votos válidos por correio tiverem sido contabilizados, será possível consolidar os resultados dos centros de contagem. Por isso, ocorrerá um pico na contagem de votos numa fase tardia do processo."

Eleições íntegras

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Rudy Giuliani ainda afirma no vídeo que republicanos foram impedidos de fiscalizar a validade de votos enviados pelo correio. O advogado cita casos na Filadélfia, Pensilvânia. Uma reportagem do site investigativo ProPublica, no entanto, aponta que autoridades eleitorais do estado negaram que observadores republicanos foram obstruídos durante o processo de apuração eleitoral.  

De acordo com representantes da Comissão Eleitoral da Pensilvânia, houve apenas um caso isolado, devido a um desentendimento sobre a permissão de um mesmo fiscalizador visitar múltiplos locais de votação. Após funcionários reconhecerem o erro, o observador republicano foi readmitido. 

Em entrevista à CNN norte-americana, a funcionária da Comissão Eleitoral Federal dos EUA, Ellen Weintraub, afirmou que houve poucas "reclamações fundamentadas" sobre a maneira como as eleições presidenciais foram conduzidas. Já uma carta assinada por autoridades eleitorais dos Estados Unidos afirma que não há evidências de fraudes no pleito

Caso Hunter Biden

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O advogado ainda faz alegações insustentáveis de que Joe Biden teria recebido US$ 14 milhões em propina do empresário ucraniano Mykola Zlochevsky, cofundador da Burisma, uma empresa do setor de energia. 

Giuliani diz que informações do computador de Hunter Biden mostram que há farta evidência do crime. A afirmação remete a uma matéria recente do tabloide NY Post, em que o veículo alega ter tido acesso a e-mails do filho do candidato democrata, com provas de que Joe Biden teria se encontrado com um empresário ucraniano.

As informações foram levadas ao jornal pelo próprio Rudy Giuliani. Segundo o advogado de Trump, cópias de e-mail foram obtidas por um backup do disco rígido do computador de Hunter Biden em uma assistência técnica. O The New York Times mostrou, no entanto, que nem mesmo os responsáveis por escrever o texto atestaram a veracidade do material. Não há acusações formais de que Joe Biden teria recebido propina de Zlochevsky. 

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