7 de setembro: Bolsonaro exagera dados econômicos em discurso em Brasília

No bicentenário da Independência, presidente disse que Brasil tem uma das gasolinas 'mais baratas do mundo', o que não é verdade

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Por Alessandra Monnerat , Clarissa Pacheco , Victor Pinheiro e Luciana Marschall
Atualização:

Em discurso para eleitores nas comemorações do 7 de setembro, em Brasília, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) exagerou dados econômicos de sua gestão. Veja abaixo a checagem do Estadão Verifica. 

Bolsonaro em Brasília. Foto: Wilton Junior/Estadão - 07/09/2022

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Gasolina mais barata do mundo?

O que Bolsonaro disse: que o Brasil tem uma das gasolinas mais baratas do mundo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Dados do site Global Petrol Prices indicam que o País ocupa a 34ª posição entre as nações com gasolina mais barata. O valor médio de US$ 1,019 por litro fica abaixo da média mundial, estimada em US$ 1,34. O preço é inferior ao registrado nos Estados Unidos (US$ 1,083), México (US$ 1,191), Índia (US$ 1,301) e Chile (US$ 1,521). Por outro lado, a gasolina brasileira ainda é mais cara do que o produto vendido na Argentina (US$ 1,013) e na Colômbia (US$ 0,557).

Em primeiro de setembro, a Petrobras promoveu o quarto corte consecutivo no preço do combustível vendido nas refinarias da estatal. A redução acompanha a variação do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Além disso, o valor da gasolina comercializado nos postos de abastecimento é influenciado pela lei sancionada por Bolsonaro, em junho, que impôs aos Estados um teto de cobrança do ICMS sobre os combustíveis. 

Inflação está despencando?

O que Bolsonaro disse: que, "quando tudo parece que estaria perdido" para o mundo por causa da pandemia, a inflação no Brasil está "despencando".

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Em julho deste ano, o País registrou deflação de 0,68%, em comparação com o mês anterior. A deflação foi puxada principalmente pela queda nos preços dos combustíveis. Porém, o acumulado de 12 meses é de alta de 10,07% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice permanece no patamar de dois dígitos há 11 meses.

Na segunda, 5, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que o Brasil terá três meses consecutivos de deflação, mas que "a batalha não está ganha". A projeção do mercado é de que haja queda de 0,35% no IPCA em agosto, mas a previsão para setembro é de alta de 0,28%, e, para outubro, de 0,52%.  

Recorde na geração de empregos?

O que Bolsonaro disse: que, "quando tudo parece que estaria perdido" para o mundo por causa da pandemia, houve recorde na geração de empregos no Brasil.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não é bem assim. O recorde da série histórica do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de admissões foi registrado em fevereiro de 2022: 2.069.316 empregos gerados. O saldo entre novos empregos e desligamentos naquele mês foi de 338.184. O maior saldo de empregos no Novo Caged foi marcado em agosto de 2021: 387.009. O resultado mais recente, de julho, foi de saldo positivo de 218,9 mil empregos.

Ocorre que o Caged mudou de metodologia em janeiro de 2020. Isso inviabiliza a comparação com períodos anteriores, inclusive com aqueles anteriores à pandemia. A estatística passou a levar em conta outras fontes de informação, o que, segundo analistas, pode inflar números antes subrepresentados.

Brasileiros são cristãos, rejeitam aborto e drogas?

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O que Bolsonaro disse: que o Brasil é uma pátria majoritariamente cristã, que não quer a liberação das drogas, nem a legalização do aborto.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdade. O último dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o perfil religioso no Brasil foi divulgado há dez anos, em 2012, e se refere aos dados do Censo de 2010. Na época, o Censo mostrou que os cristãos - católicos somados a evangélicos - correspondiam a 86,8% da população.  Para o IBGE, os números do Censo 2010 mostraram um crescimento da diversidade de grupos religiosos no Brasil, já que naquele período aumentou a quantidade de espíritas e sem religião (8% em 2010, contra 7,3% em 2000).

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Em relação ao aborto, a percepção da população muda de acordo com a situação. Em janeiro de 2018, o Instituto Datafolha fez uma pesquisa sobre o assunto e os resultados apontaram que 57% dos brasileiros adultos eram a favor da criminalização da prática - em dezembro de 2016, eles eram 64%. O percentual de 57% foi o segundo menor da série, acima apenas do índice de 2007, quando 43% eram a favor da criminalização. No entanto, 61% dos brasileiros adultos eram favoráveis ao aborto quando a gestação colocava a vida da mãe em risco e 53% eram favoráveis em caso de gravidez resultante de estupro. 

Pesquisa Datafolha sobre temas polêmicos

Sobre a legalização das drogas, a mesma pesquisa do Datafolha divulgada em janeiro de 2018 mostrou que a maioria dos brasileiros adultos (66%) seguia contrário à legalização da maconha, mas a rejeição vinha diminuindo e o percentual era o mais baixo da série histórica iniciada em 1995. Na prática, a pesquisa apontou aumento no percentual de pessoas que apoiavam a legalização da maconha - eram 20% em 2012 e chegaram a 36% no final de 2017.

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