Eliane Cantanhêde
18 de maio de 2016 | 19h11
A escolha do deputado André Moura (PSC-SE) para a liderança do governo Michel Temer na Câmara é um péssimo sinal, um sinal de que, mesmo afastado da presidência da Câmara e do próprio mandato, o peemedebista Eduardo Cunha mantém um imenso _ e entranhíssimo _ poder. Pode fazer sentido para o mundo político, mas não para o mundo real a desenvoltura com que um réu do Supremo Tribunal Federal, com tantas suspeitas e tantas contas secretas no exterior, possa indicar seus apadrinhados para cargos estratégicos do governo interino.
O novo líder do governo André Moura poderia ser apenas inexpressivo, do chamado “baixo clero”, mas é muitíssimo mais grave do que isso. O sujeito é réu em três ações penais no Supremo, sob a acusação de desviar dinheiro público, e é investigado em pelo menos três outros inquéritos, um deles por suposta participação em… tentativa de homicídio! Além disso, ele também já foi condenado em Sergipe por improbidade administrativa.
Não satisfeito em nomear o líder do governo, responsável pela comunicação do Planalto com a Câmara, o onipresente Cunha fez também o chefe de gabinete do ministro Geddel Vieira Lima, que é quem atende os parlamentares; fez o sub-chefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, que cuida dos pareceres da Presidência; e dizem até as más línguas que, na verdade, quem fez o ministro da Justiça não foi o governador tucano Geraldo Alckmin, mas o próprio Cunha.
Então, a gente fica com a sensação de que o mundo político, o novo governo e até o presidente interino são reféns de Cunha. Está o maior constrangimento entre os próprios aliados de Temer, que tem engolido esse tipo de sapo sob o argumento de que precisa ter sólida maioria no Congresso para aprovar medidas econômicas essenciais para começar a tirar o país do imenso buraco em que a presidente afastada Dilma Rousseff o jogou.
O fato, porém, é que Cunha terá acesso a informações preciosas de dentro da Presidência da República, terá gente dele para formular pareceres jurídicos sobre tudo, terá ingerência na articulação política do Planalto com o Congresso e terá como saber, com antecedência, o que está acontecendo até em áreas muito sensíveis do governo. No mínimo preocupante, não é verdade?
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