Foi uma decisão dificílima, com importantes prós e contra. Pesou na palavra final de Moro não apenasa vaidade pessoal e a ambição por alçar os píncaros da carreira, ambas absolutamente legítimas, mas também a chance de ter uma super trincheira para combater a corrupção e o crime organizado, evitar retrocessos institucionais e práticos na Lava Jato e, para quem o conhece bem, até para criar mais um escudo de defesa do Estado de Direito.
Para capturá-lo, Bolsonaro se dispôs a trazer a Segurança Pública e a Polícia Federal de volta para o Ministério da Justiça e transformá-lo numa das super-pastas do seu governo, ao lado de Economia e Infraestrutura. Sob Moro, estarão, além de uma PF revigorada, a Controladoria Geral da República e a Transparência, talvez até a Coaf, formando um aglomerado capaz de fiscalizar, prevenir e garantir a punição de grandes e pequenos atos de corrupção no setor público e o descontrole do crime organizado no País.
Tudo isso, porém, tem um alto custo para Moro, inclusive de imagem. O primeiro deles é que, ao aceitar a oferta de Bolsonaro, ele deu de bandeja todo o arsenal para a reação do PT e dos aliados do ex-presidente Lula, que amplificarão em muito a gritaria de "perseguição política", "partidarismo" e "ilegitimidade", senão "ilegalidade", por exemplo, na divulgação de parte da delação premiada do ex-ministro petista Antonio Palocci num momento delicado da eleição. E, ao PT, irão certamente se somar hordas de políticos e poderosos atingidos pela Lava Jato, sem falar em seus advogados e fortes setores jurídicos.
Moro estava preparado para isso, já escaldado pelas críticas e ataques, esteja onde estiver, de petistas, peemedebistas, pepistas e outros "istas" que provaram de sua pena implacável em Curitiba. Ele, porém, pode não ter contado com um outro tipo de reação, em outro tipo antagônico de público e crítica: o desapontamento, até desilusão, entre o dos defensores ardorosos da Lava Jato e dele próprio como símbolo maior de combate à corrupção. É nesses que ele precisa focar, para manter o maciço apoio da opinião pública e da sociedade para o seu, até aqui, muito bem-sucedido papel de limpeza das instituições.
Para isso, o juiz corre contra o tempo. Ele tem que mostrar e comprovar que, para o grande objetivo de combate à corrupção, ele estará melhor e mais bem aparelhado no Ministério da Justiça do que na sua Primeira Instância em Curitiba, onde a Lava Jato, aliás, já deu o que tinha de dar. Se convencida de que valeu a pena, de que a vinda de Moro para Brasilia só aprofunda e aumenta o combate à corrupção sistêmica e enraizada, a maioria vai saber, mais uma vez, calar a minoria que grita a favor dos condenados e contra os juízes. Mas tem de ser rápido.