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A campanha eleitoral na internet e nos tribunais

Mais informação, mais debate? A política na rede.

A ampliação inevitável do ambiente de discussão política para a rede tende a aprofundar, se não estabelecer definitivamente, um paradoxo na qualidade da prática da democracia.

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Por Redação
Atualização:

Por Fernando Leal*

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Se na televisão as acusações aumentam e o tom agressivo dos debates entre os candidatos se intensifica, na rede não é diferente. Neste segundo turno, a disputa entre os dois candidatos permanece acirrada nos números e intensa nos palanques - reais e virtuais. Na guerra virtual, porém, partidários de cada candidato cada vez mais se embrenham em suas trincheiras e aplicam golpes cada vez mais duros contra os seus adversários. Parece que, neste momento, muitos espaços na rede têm servido apenas para agredir e não para debater. O afirmado "baixo nível" da campanha eleitoral dos candidatos, que já levou o TSE a reagir, pode ser facilmente encontrado nas redes sociais.

Esse diagnóstico traz para a mesa de discussões possíveis problemas de uma sociedade conectada. Será que a facilidade para produzir e obter informações na internet favorece efetivamente a formação de convicções bem informadas? Há debates preocupados com a qualidade dos argumentos? Há predisposição real para ouvir e se deixar persuadir?

Na internet, os reflexos da disputa política inegavelmente tendem, em alguma medida, a produzir e ecoar desacordos profundos, quase sempre desacompanhados de reflexão e tolerância. Esse retrato, na verdade, desmistifica - ou, no mínimo, problematiza - a visão quase intuitiva de que a ampla facilidade para obter e divulgar informações na rede aumentaria a qualidade do debate político. Na internet, as ideias fluem. O espaço público virtual é repleto de informações acessíveis a poucos cliques. E não poderia ser diferente, como regra, em um país que leva a sério a liberdade de expressão.

Mais dados, no entanto, não significam necessariamente muitos dados diferentes. Existe, com outras palavras, a possibilidade de qualquer cidadão interessado em política ter, no final de cada dia, apenas mais do mesmo, especialmente quando é um consumidor passivo de informação. E aí está um possível problema. A ampliação inevitável do ambiente de discussão política para a rede tende a aprofundar, se não estabelecer definitivamente, um paradoxo na qualidade da prática da democracia.

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Integrado em redes sociais, o cidadão participa, desde o início, de grupos alinhados com as suas preferências, sejam elas culturais, profissionais ou, certamente, políticas. E escreve e recebe informações, nas suas contas de e-mail, Facebook e Twitter, de diversas pessoas que, de modo nada surpreendente, estão predispostas a dizer e ouvir exatamente o que já se espera desde o início. Por isso, suas convicções, em vez de serem questionadas e, assim, estarem ao menos sujeitas ao refinamento ou à mudança, são apenas reforçadas. Mas sem necessariamente um diálogo capaz de levar a sério outras posições, pois, nesses grupos, as pessoas não são expostas a visões que excluíram desde o início. O paradoxo é simples: em um mundo em que todos estão conectados, pode ser mais difícil construir um espaço geral de discussão sadia.

Com a facilidade de produção e divulgação de informações e opiniões, a ironia gritante está no fato de que um aumento significativo de ideias pode estar apenas a serviço da fragmentação e da exclusão. Em vez de mais referências, estão lá sempre as mesmas visões. Com isso, defende Sunstein em seu Republic.com, perde a democracia.

É claro que não há dados capazes de comprovar esse diagnóstico. Ao mesmo tempo, parece ingênuo defender que a internet possui apenas um lado negativo. Da mesma forma que a rede pode isolar, ela pode - e é certamente usada - para criar mais interações e facilitar a busca ativa por dados, inclusive sobre candidatos e plataformas políticas. Não apenas mais informações sobre o que já se possui. Mas, sobretudo, informações sobre o outro lado. Em um segundo turno que se mostra, desde o início, equilibrado, essa postura pode fazer muita diferença. Omundo não é nem pior nem melhor com a internet. É apenas diferente.

 

*Fernando Leal é professor da FGV Direito Rio.

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