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A campanha eleitoral na internet e nos tribunais

Entrando no jogo

A presença proativa de empresas como Google e Facebook na campanha eleitoral de 2014 chega a ser uma surpresa para alguns. Na verdade trata-se de uma reviravolta no planejamento de longo prazo das empresas de tecnologia.

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Por Redação
Atualização:

Por Ivar Hartmann* 

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A presença proativa de empresas como Google e Facebook na campanha eleitoral de 2014 chega a ser uma surpresa para alguns. Na verdade trata-se de uma reviravolta no planejamento de longo prazo das empresas de tecnologia.

A relação entre a internet e o governo sempre foi no mínimo complexa. Os pais da internet nos anos 70 não gostavam muito do Estado. Os filhos da internet nos anos 2000 também não. Quando a rede começou a se popularizar nos anos 90, um de seus usuários mais famosos produziu uma "declaração de independência" que sintetizava o sentimento geral dos internautas sobre a presença dos governos na internet: "vocês não são bem vindos aqui". Os jovens fundadores das atuais gigantes tecnológicas originam dessas fileiras. Por extensão, Google, Facebook e outras também têm certa desconfiança do Estado.

Desde a época em que eram pequenas startups essas empresas não pretendiam ter o relacionamento normal de uma empresa com o governo. A ideia era ser diferente. Acreditavam ser perda de tempo tentar, através do diálogo, conseguir qualquer mudança. Viam o sistema como necessariamente corrupto. Licenças são compradas. Mudanças na lei custam uma doação ao congressista durante a eleição.

O caminho novo que pretendiam seguir? Esperar. Como tudo na sociedade, a internet iria revolucionar também o governo e a política. O sistema perverso não conseguiria fazer frente à sociedade-rede. E então essas empresas teriam o governo justo que entendiam merecer.

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Mas a mudança demorou demais. Duas décadas depois o Estado continua essencialmente igual, com menos mudanças do que se esperava que a internet traria. Esses agora-não-tão-jovens empreendedores e suas agora-não-tão-pequenas empresas perderam muito com escolhas regulatórias do bom e velho governo nas áreas de propriedade intelectual e telecomunicações. Passou a ser muito caro não entrar no velho jogo. E então elas passaram a respeitar as velhas regras para influenciar a maneira como serão definidas as novas regras. 

As empresas de tecnologia gastaram 61 milhões de dólares em lobby nos EUA em 2013, um aumento em relação ao ano anterior. O Google ficou entre as 20 empresas de qualquer setor que mais investiram. Em 2013, sua imagem foi severamente arranhada pela revelação de que colaboraram com o governo americano no programa de espionagem massificada revelado por Snowden. Em resposta, as empresas passaram a pressionar de volta, com Mark Zuckerberg liderando discussões sobre mudanças na atuação da Agência Nacional de Segurança (NSA).

O papel ativo durante as eleições faz parte desse movimento das empresas de tecnologia. O Google lançou uma plataforma com dados sobre os candidatos e links para notícias sobre as campanhas. O Facebook realizou sessões online nas quais candidatos à presidência discutiam com usuários da rede social. Enquanto a lei obriga a imprensa a respeitar a igualdade de espaço entre os candidatos, as empresas de tecnologia estão por hora livres dessa regulação.

As gigantes da tecnologia têm dinheiro de sobra e estão em posição privilegiada para influenciar as escolhas do eleitor, especialmente aquele com menos de 30 anos. A tendência é que se tornem atores decisivos durante as campanhas. A grande questão é se ainda desejam a mudança da política ou se vão se acostumar a jogar pelas velhas regras.

 

*Ivar Hartmann é professor da FGV Direito Rio.

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