Por Eduardo Muylaert*
O suspense é da essência da obra de ficção, sem ele abandonamos o livro ou o filme. Também na campanha eleitoral, o suspense é ingrediente indispensável. Cada pesquisa é mais esperada do que o resultado da Mega-Sena, e os resultados incendeiam os comitês e as redes sociais.
Que tal analisar a campanha a partir das fórmulas que garantem o sucesso dos best-sellers e dos filmes de Hollywood?
Em sua Jornada do Escritor, Christopher Vogler[1] relaciona os 12 passos da trajetória do herói, presentes nas obras dramáticas, de amor, e até nos ritos religiosos. Tudo começa com O Poder do Mito, célebre estudo de Joseph Campbell[2], que incorpora os arquétipos de Jung e define o herói como a pessoa que sai do comum, enfrenta uma luta e realiza grandes feitos em benefício de um grupo, tribo ou civilização.
Vogler, consultor de filmes como A Lenda de Beowulf, Hancock e 10.000 A.C., vê permanência nos antigos padrões e na sabedoria dos mitos da antiguidade, que ainda servem aos nossos heróis de hoje, da ficção e da vida política.
Uma "estória" é um design em que bastam 5 partes, segundo Robert McKee[3]: o incidente iniciante, o primeiro evento da narrativa, é a causa primária de tudo o que segue, colocando os outros quatro elementos - complicações progressivas, crise, clímax e resolução, em movimento.
A entrada de Marina na eleição de 2014, do modo como ocorreu, deu um tom de suspense ao que parecia previsível e insosso. Um evento inesperado, trágico mesmo, levou a um chamado para a "aventura", tirando-a do mundo comum. Depois de fugir ao chamado, ouve a consciência e quer lutar contra o atual estado de coisas. Passa o primeiro limiar, enfrenta armadilhas e adversários, mas conquista aliados. A pesquisa e as fantasias que criam a seu respeito parecem as maiores provas a enfrentar. Quando tudo parece ir bem, novos obstáculos. Tudo parece desmoronar, em certos momentos, mas a ressurreição é possível. Conseguirá Marina chegar ao elixir que salvará seu povo?
Não sou eu quem escreve esse roteiro, ele está acontecendo de verdade e, ao seu modo, Dilma e Aécio também percorrem um caminho parecido, embora menos inesperado, a não ser nos números.
Por ora, a opinião pública, a mesma que grita nas redes sociais e é desvendada nas pesquisas - decifra-me ou te devoro - é quem está pontuando os altos e baixos da jornada. Logo mais, no dia 5 de outubro, o eleitor vai decidir o final do primeiro volume, digo, primeiro turno. Aí, começa a batalha final. Que vença o melhor, cada povo tem o herói que escolhe. Ou melhor, que elege.