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Fundação Palmares usa pandemia como motivo para não comemorar mês da consciência negra

Por Mariana Haubert
Atualização:

Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares Foto: Gabriela Bilo/Estadão

A ausência de ações da Fundação Palmares para o mês da consciência negra foi justificada com um argumento que vai de encontro às convicções do próprio presidente da entidade, Sérgio Camargo. Em documento, a fundação afirma que a pandemia do coronavírus ensejou a necessidade de quarentena e isolamento social. Camargo, porém, disse em março, que esse tipo de medida era "a maior imbecilidade da história da humanidade". Anteriormente, ele também já havia dito que a fundação não faria nada pelo Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

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A justificativa está presente em uma resposta a um pedido de informação feita pelo advogado Marivaldo Pereira. No texto, a fundação cita a legislação brasileira que determinou medidas de combate à covid-19 e relembra recomendações da Organização Mundial da Saúde.

A entidade informa apenas que irá divulgar e premiar, neste mês, os vencedores do único edital lançado neste ano, "A arte no quilombo", que selecionou cem iniciativas da cultura afro-brasileira. Nesta quinta, Camargo assinou uma portaria para "moralizar" a escolha de personalidades notáveis negras.

O documento foi apensado a uma representação apresentada por Pereira ao Ministério Público Federal em 6 de novembro, em que pede a exoneração de Camargo da presidência da Palmares por improbidade administrativa. O documento é assinado também pela jornalista Ana Claudia Silva Mielke.

Ambos decidiram usar a mesma estratégia adotada pelo próprio MPF em relação a Ricardo Salles. Em julho, o órgão pediu o afastamento do ministro do Meio Ambiente por considerá-lo responsável pelo desmonte do sistema de proteção ambiental do País, que causou aumento do desmatamento, das queimadas, dos garimpos ilegais e da grilagem de terras.

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"Resolvemos fazer esse paralelo, aproveitando o mês da consciência negra, porque identificamos um desmonte da Palmares. Mesmo antes da sua posse, ele já colocava uma série de posicionamentos contrários aos objetivos da fundação, com posturas negacionistas e de perseguição a lideranças de religiões afro e lideranças negras", afirmou Pereira.

De acordo com documentos da entidade obtidos por Pereira, a Palmares executou, até 30 de setembro, apenas 47,5% de todo o seu orçamento para 2020, o que representa R% 5,3 milhões. Desde 2012, as execuções ficaram sempre acima de 70%.

A própria fundação admite que nem Camargo, nem nenhuma outra autoridade do órgão tiveram alguma agenda em 2019 e 2020 com representantes dos povos tradicionais de terreiros e de reuniões da agenda social quilombola.

A fundação lista também como uma das principais atividades do ano a mudança de sua sede para um prédio cedido pela EBC, cuja economia seria de R$ 2 milhões por ano. O imóvel, no entanto, apresenta diversos problemas e a mudança é alvo de críticas de servidores do órgão.

A Coluna tentou entrar em contato com a Fundação Palmares, mas até o momento não obteve resposta.

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