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Bastidores da política e da economia, com Julia Lindner e Gustavo Côrtes

Demissão de Segovia dividiu aliados de Temer

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Por Andreza Matais
Atualização:

Sinais Particulares: Fernando Segovia, diretor-geral da PF; por Kleber Sales 

A troca no comando da Polícia Federal começou a ser costurada pelo ministro Raul Jungmann antes mesmo de ele assumir a nova pasta da Segurança Pública. O então ministro da Defesa conversou com interlocutores e definiu que essa seria sua condição para assumir a tarefa. O argumento é que ele só terá dez meses no comando de um ministério que gera grande expectativa e não poderia perder o seu tempo gerenciando crises causadas por Fernando Segovia.

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Já no cargo, Jungmann enfrentou fortes pressões do meio político e jurídico para não efetivar a mudança no comando da PF. Segovia tem muitas relações e tentou se segurar no cargo até onde pôde. Tanto que a notícia de sua demissão não surpreendeu apenas ele, mas também muitos interlocutores bem próximos do presidente Temer. Ele havia recebido a garantia de que chegou ao mais alto posto da PF por indicação de um conjunto de forças, o que o tornara imexível. Além disso, se Temer for demitir todos que falam demais ficará sem equipe. Não foi bem assim.

Para chegar ao comando da PF, Segovia fez muitas promessas. Não conseguiu cumprir nenhuma delas. Em quase uma década como diretor-geral Leandro Daiello mudou a instituição e deu autonomia aos delegados. Quando deixou o cargo, a equipe de Daiello dizia como um mantra: "Se Segovia tentar interferir em algum inquérito, ele sairá preso daqui". Foi por pouco. O ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso, cobrou-lhe explicações por sugerir que as investigações contra Temer devem ser arquivadas (quando ainda estão em curso) e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu à Corte que o afastasse caso continuasse dando declarações desse tipo.

As pressões para manter Segovia seguraram a troca ainda pela manhã desta terça. Mas ao longo do dia o presidente Temer cedeu, até para não ficar a suspeita de que Jungmann seria um ministro enfraquecido. Jungmann em nada se parece com o colega da Justiça, Torquato Jardim, que engoliu a seco a nomeação de Segovia.

Temer já não estava satisfeito com Segovia e suas promessas não cumpridas, o que pesou na decisão de avalizar a troca. As declarações sobre o inquérito dos portos jogaram luz sobre uma investigação da qual pouco se falava e quase arrastaram o presidente para uma nova investigação. Quem quiser investigar a fundo terá de responder se Segovia tentou interferir no inquérito atendendo a algum pedido. (Andreza Matais)

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