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“Eu quase de nada sei, mas desconfio de muita coisa.” (Guimarães Rosa)

Na esperança da inviabilidade de Bolsonaro

Por Carlos Melo
Atualização:
Painel "Guernica" (1937), de Pablo Picasso. Museu Reina Sofia, Madri, Espanha. Foto: Museu Reina Sofia.

 

Ponto fixo na geometria, na política brasileira o centro é lugar incerto e não sabido. Torcendo por fatos novos, conforma-se em campo fragmentado e dependente dos erros de adversários descuidados. Parece marcado pelo signo nonsense de "Terceira Via", o terceiro lugar na corrida em que apenas dois passam para o segundo turno.

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Disputas entre personalidades imodestas mal disfarçam remorsos pelo apoio, em 2018, e pela simpatia inicial ao governo Bolsonaro, desde sempre a calamidade social, política e democrática que se conhece. Resultado do vazio programático que supervaloriza o discurso reformista voltado mais ao passado que ao futuro; agenda sob alguns aspectos necessária, mas atropelada pelo mundo de revoluções e exclusões catalisadas na pandemia.

Dentre outros, é o caso do PSDB cujas crises de projeto e identidade remontam ao final do governo FHC - quando, de fato, se conduziu importante processo de modernização. Desde então, questões aprofundadas por escaramuças entre caciques de ontem e hoje e na divisão da bancada federal cindida por princípios democráticos e lamentáveis fisiologismo e oportunismo eleitorais.

É assim que o Centro se anima: na expectativa da inviabilidade política de Bolsonaro, quando, mais uma vez, será erguido o estandarte oco do antipetismo -- quem sabe, a modo de reconstruir a trilha de 2014, que nos trouxe ao labirinto. Sem olhar para o futuro, renunciar a projetos pessoais, construir diálogos e despertar a esperança, o Centro caminha sem sair do lugar.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

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