Ponto fixo na geometria, na política brasileira o centro é lugar incerto e não sabido. Torcendo por fatos novos, conforma-se em campo fragmentado e dependente dos erros de adversários descuidados. Parece marcado pelo signo nonsense de "Terceira Via", o terceiro lugar na corrida em que apenas dois passam para o segundo turno.
Disputas entre personalidades imodestas mal disfarçam remorsos pelo apoio, em 2018, e pela simpatia inicial ao governo Bolsonaro, desde sempre a calamidade social, política e democrática que se conhece. Resultado do vazio programático que supervaloriza o discurso reformista voltado mais ao passado que ao futuro; agenda sob alguns aspectos necessária, mas atropelada pelo mundo de revoluções e exclusões catalisadas na pandemia.
Dentre outros, é o caso do PSDB cujas crises de projeto e identidade remontam ao final do governo FHC - quando, de fato, se conduziu importante processo de modernização. Desde então, questões aprofundadas por escaramuças entre caciques de ontem e hoje e na divisão da bancada federal cindida por princípios democráticos e lamentáveis fisiologismo e oportunismo eleitorais.
É assim que o Centro se anima: na expectativa da inviabilidade política de Bolsonaro, quando, mais uma vez, será erguido o estandarte oco do antipetismo -- quem sabe, a modo de reconstruir a trilha de 2014, que nos trouxe ao labirinto. Sem olhar para o futuro, renunciar a projetos pessoais, construir diálogos e despertar a esperança, o Centro caminha sem sair do lugar.
Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.