Como tenho assinalado, o segundo turno disputado contra mandatário que tenta a reeleição é sempre plebiscitário: a administração é invariavelmente posta em escrutínio. Numa cidade como São Paulo, repleta de problemas, o apelo à crítica e ao julgamento e a revelação de mazelas são instrumentos comuns e, não raro, eficazes.
Há décadas no governo estadual e vencedor amiúde do pleito na Capital - com renúncias sistemáticas no meio do caminho --, os tucanos estão naturalmente submetidos ao desgaste: estranho seria se esta eleição fosse uma lavada em seu favor. Por mais que Covas busque transformar sua administração numa vitrine, ela não deixa de ser - independentemente de sua ação -- também uma vidraça exposta. Não adianta se irritar com isso.
Por sua vez, sem carregar a rejeição dos "primos" do PT - ou a que teria Russomanno, com apoio de Bolsonaro - Guilherme Boulos tem sabido colocar-se tanto como franco atirador, quanto como alternativa à espreita de um erro do prefeito; são circunstâncias desde sempre previsíveis. Jogo jogado; como dizia o locutor: esporte é saúde.
Bruno Covas segue na dianteira e a quatro dias da eleição ainda é favorito. Mas, como a donna da ópera, o eleitor também é móbile, suscetível a críticas e argumentos: além dos indecisos, há também a abstenção, agravada pelas sombras de uma segunda onda na pandemia -- o maior apoio a Covas está justamente entre os mais velhos. Logo, impulsos e solavancos de última hora não seriam inéditos em São Paulo.
Carlos Melo, Cientista Político. Professor do Insper.