“Eu quase de nada sei, mas desconfio de muita coisa.” (Guimarães Rosa)

Entre pobres e paupérrimos, Bolsonaro não resolve o problema de ninguém


Por Carlos Melo

 

A equipe econômica não encontra por onde mitigar os problemas dos pobres no Brasil, revelados de forma ainda mais dramática pela pandemia. Precisa fazê-lo não apenas por questões objetivas, mas também para atender a demanda da área política do governo, que encontrou ali um extraordinário manancial de votos que interessam à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, teme piorar ainda mais as condições fiscais do país, ferindo assim suscetibilidades do mercado financeiro, sempre vigilante em relação às condições do governo honrar compromissos com investidores.

Está entre a cruz e a espada e descobre que, de fato, ninguém é feliz servindo a dois senhores.

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É uma contradição sem fim que tem levado membros do ministério da Economia a dedicarem-se ao esporte do lançamento de balões de ensaio para erguer, enfim, o que o governo gostaria de chamar "Renda Brasil", nova marca de Jair Bolsonaro, aposentando o "Bolsa Família", trademark (TM) do petismo.

A imprensa faz sua parte, divulga o debate interno e dá expressão a essa contradição e a esse jogo: para preservar o balanço fiscal - que já é péssimo --, o governo cogita tirar de aposentados e pobres para dar aos mais pobres, "os paupérrimos", como diz o presidente. Não faz isso sem saber que, por estapafúrdias, são ideias politicamente mortas.

De todo modo, as manchetes chegam à mesa de Bolsonaro e azedam seu café-da-manhã; ele sabe do desgaste que esses balões de ensaio implicam; sabe também que terá que responder por isso o resto do dia. Reage do modo que lhe é peculiar, o arroubo. Distribui descomposturas, ameaça com "cartões vermelhos", proíbe voltar a especulações em torno do Renda Brasil -- como se esta não fosse uma demanda sua; pede patriotismo ao mercado, aos supermercados... a quem quer que seja. Enfim, resigna-se, apenas por ora, ao "Bolsa Família" (TM).

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Gostaria que tudo fosse diferente: que a equipe econômica soubesse fazer mágica com a matemática; que não houvesse limites fiscais, políticos, que se cortasse em outros lugares, que Paulo Guedes se virasse... Mas, Guedes não é Robin Hood, sabe o suposto efeito de cortar dos ricos, preferiria mexer nos recursos carimbados pela Constituição, o que não depende dele -- havendo aí também uma enorme confusão, com rebelião de corporações, bancadas e setores sociais.

Ao seu modo, o presidente percebe tudo: as saídas são estreitas, deveriam ser construídas pela política, mas esse tipo de política não é com ele: faltam-lhe engenho, arte e paciência. Mais uma vez, joga Paulo Guedes ao fogo: que arda! O ministro, afinal, é resiliente. E ao fazê-lo, Bolsonaro posta-se como defensor de pobres e paupérrimos, numa guerra definitivamente perdida para eles. No melhor estilo populista, está ao lado do "povo" sem resolver o problema de quem quer que seja.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

 

A equipe econômica não encontra por onde mitigar os problemas dos pobres no Brasil, revelados de forma ainda mais dramática pela pandemia. Precisa fazê-lo não apenas por questões objetivas, mas também para atender a demanda da área política do governo, que encontrou ali um extraordinário manancial de votos que interessam à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, teme piorar ainda mais as condições fiscais do país, ferindo assim suscetibilidades do mercado financeiro, sempre vigilante em relação às condições do governo honrar compromissos com investidores.

Está entre a cruz e a espada e descobre que, de fato, ninguém é feliz servindo a dois senhores.

É uma contradição sem fim que tem levado membros do ministério da Economia a dedicarem-se ao esporte do lançamento de balões de ensaio para erguer, enfim, o que o governo gostaria de chamar "Renda Brasil", nova marca de Jair Bolsonaro, aposentando o "Bolsa Família", trademark (TM) do petismo.

A imprensa faz sua parte, divulga o debate interno e dá expressão a essa contradição e a esse jogo: para preservar o balanço fiscal - que já é péssimo --, o governo cogita tirar de aposentados e pobres para dar aos mais pobres, "os paupérrimos", como diz o presidente. Não faz isso sem saber que, por estapafúrdias, são ideias politicamente mortas.

De todo modo, as manchetes chegam à mesa de Bolsonaro e azedam seu café-da-manhã; ele sabe do desgaste que esses balões de ensaio implicam; sabe também que terá que responder por isso o resto do dia. Reage do modo que lhe é peculiar, o arroubo. Distribui descomposturas, ameaça com "cartões vermelhos", proíbe voltar a especulações em torno do Renda Brasil -- como se esta não fosse uma demanda sua; pede patriotismo ao mercado, aos supermercados... a quem quer que seja. Enfim, resigna-se, apenas por ora, ao "Bolsa Família" (TM).

Gostaria que tudo fosse diferente: que a equipe econômica soubesse fazer mágica com a matemática; que não houvesse limites fiscais, políticos, que se cortasse em outros lugares, que Paulo Guedes se virasse... Mas, Guedes não é Robin Hood, sabe o suposto efeito de cortar dos ricos, preferiria mexer nos recursos carimbados pela Constituição, o que não depende dele -- havendo aí também uma enorme confusão, com rebelião de corporações, bancadas e setores sociais.

Ao seu modo, o presidente percebe tudo: as saídas são estreitas, deveriam ser construídas pela política, mas esse tipo de política não é com ele: faltam-lhe engenho, arte e paciência. Mais uma vez, joga Paulo Guedes ao fogo: que arda! O ministro, afinal, é resiliente. E ao fazê-lo, Bolsonaro posta-se como defensor de pobres e paupérrimos, numa guerra definitivamente perdida para eles. No melhor estilo populista, está ao lado do "povo" sem resolver o problema de quem quer que seja.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

 

A equipe econômica não encontra por onde mitigar os problemas dos pobres no Brasil, revelados de forma ainda mais dramática pela pandemia. Precisa fazê-lo não apenas por questões objetivas, mas também para atender a demanda da área política do governo, que encontrou ali um extraordinário manancial de votos que interessam à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, teme piorar ainda mais as condições fiscais do país, ferindo assim suscetibilidades do mercado financeiro, sempre vigilante em relação às condições do governo honrar compromissos com investidores.

Está entre a cruz e a espada e descobre que, de fato, ninguém é feliz servindo a dois senhores.

É uma contradição sem fim que tem levado membros do ministério da Economia a dedicarem-se ao esporte do lançamento de balões de ensaio para erguer, enfim, o que o governo gostaria de chamar "Renda Brasil", nova marca de Jair Bolsonaro, aposentando o "Bolsa Família", trademark (TM) do petismo.

A imprensa faz sua parte, divulga o debate interno e dá expressão a essa contradição e a esse jogo: para preservar o balanço fiscal - que já é péssimo --, o governo cogita tirar de aposentados e pobres para dar aos mais pobres, "os paupérrimos", como diz o presidente. Não faz isso sem saber que, por estapafúrdias, são ideias politicamente mortas.

De todo modo, as manchetes chegam à mesa de Bolsonaro e azedam seu café-da-manhã; ele sabe do desgaste que esses balões de ensaio implicam; sabe também que terá que responder por isso o resto do dia. Reage do modo que lhe é peculiar, o arroubo. Distribui descomposturas, ameaça com "cartões vermelhos", proíbe voltar a especulações em torno do Renda Brasil -- como se esta não fosse uma demanda sua; pede patriotismo ao mercado, aos supermercados... a quem quer que seja. Enfim, resigna-se, apenas por ora, ao "Bolsa Família" (TM).

Gostaria que tudo fosse diferente: que a equipe econômica soubesse fazer mágica com a matemática; que não houvesse limites fiscais, políticos, que se cortasse em outros lugares, que Paulo Guedes se virasse... Mas, Guedes não é Robin Hood, sabe o suposto efeito de cortar dos ricos, preferiria mexer nos recursos carimbados pela Constituição, o que não depende dele -- havendo aí também uma enorme confusão, com rebelião de corporações, bancadas e setores sociais.

Ao seu modo, o presidente percebe tudo: as saídas são estreitas, deveriam ser construídas pela política, mas esse tipo de política não é com ele: faltam-lhe engenho, arte e paciência. Mais uma vez, joga Paulo Guedes ao fogo: que arda! O ministro, afinal, é resiliente. E ao fazê-lo, Bolsonaro posta-se como defensor de pobres e paupérrimos, numa guerra definitivamente perdida para eles. No melhor estilo populista, está ao lado do "povo" sem resolver o problema de quem quer que seja.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

 

A equipe econômica não encontra por onde mitigar os problemas dos pobres no Brasil, revelados de forma ainda mais dramática pela pandemia. Precisa fazê-lo não apenas por questões objetivas, mas também para atender a demanda da área política do governo, que encontrou ali um extraordinário manancial de votos que interessam à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, teme piorar ainda mais as condições fiscais do país, ferindo assim suscetibilidades do mercado financeiro, sempre vigilante em relação às condições do governo honrar compromissos com investidores.

Está entre a cruz e a espada e descobre que, de fato, ninguém é feliz servindo a dois senhores.

É uma contradição sem fim que tem levado membros do ministério da Economia a dedicarem-se ao esporte do lançamento de balões de ensaio para erguer, enfim, o que o governo gostaria de chamar "Renda Brasil", nova marca de Jair Bolsonaro, aposentando o "Bolsa Família", trademark (TM) do petismo.

A imprensa faz sua parte, divulga o debate interno e dá expressão a essa contradição e a esse jogo: para preservar o balanço fiscal - que já é péssimo --, o governo cogita tirar de aposentados e pobres para dar aos mais pobres, "os paupérrimos", como diz o presidente. Não faz isso sem saber que, por estapafúrdias, são ideias politicamente mortas.

De todo modo, as manchetes chegam à mesa de Bolsonaro e azedam seu café-da-manhã; ele sabe do desgaste que esses balões de ensaio implicam; sabe também que terá que responder por isso o resto do dia. Reage do modo que lhe é peculiar, o arroubo. Distribui descomposturas, ameaça com "cartões vermelhos", proíbe voltar a especulações em torno do Renda Brasil -- como se esta não fosse uma demanda sua; pede patriotismo ao mercado, aos supermercados... a quem quer que seja. Enfim, resigna-se, apenas por ora, ao "Bolsa Família" (TM).

Gostaria que tudo fosse diferente: que a equipe econômica soubesse fazer mágica com a matemática; que não houvesse limites fiscais, políticos, que se cortasse em outros lugares, que Paulo Guedes se virasse... Mas, Guedes não é Robin Hood, sabe o suposto efeito de cortar dos ricos, preferiria mexer nos recursos carimbados pela Constituição, o que não depende dele -- havendo aí também uma enorme confusão, com rebelião de corporações, bancadas e setores sociais.

Ao seu modo, o presidente percebe tudo: as saídas são estreitas, deveriam ser construídas pela política, mas esse tipo de política não é com ele: faltam-lhe engenho, arte e paciência. Mais uma vez, joga Paulo Guedes ao fogo: que arda! O ministro, afinal, é resiliente. E ao fazê-lo, Bolsonaro posta-se como defensor de pobres e paupérrimos, numa guerra definitivamente perdida para eles. No melhor estilo populista, está ao lado do "povo" sem resolver o problema de quem quer que seja.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

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