Seria suicídio eleitoral recusar uma "bicadinha" em pelo menos uma (duas, três ou quatro...) cachacinhas. Como não podia panfletar dentro do Mercadão - a lei eleitoral veta -, tentei outra abordagem: vesti uma camiseta com a minha propaganda.
Ao me aproximar dos estandes, me apresentava com candidato e apreciador do produto etílico nacional. - Você veio aqui para beber ou para pedir votos? - me perguntou um expositor.
Respondi que uma coisa não excluía a outra e ganhei a simpatia do eleitor... mineiro. Em outro estande, experimentei outra cachacinha e abordei um eleitor... carioca.
Foi quando percebi que, além de "altinho", estava pedindo votos no lugar errado. Os candidatos vivem visitando o Mercadão, mas, talvez, estejam cometendo o mesmo erro que eu cometi - falar com os eleitores de outras cidades e Estados.
Ao me ver no exercício democrático da degustação de cachaças, esses mesmos eleitores forasteiros me incentivaram a continuar na carreira política. Segundo eles, ao menos dois ex-presidentes da República começaram como eu: "Bebendo".
No Mercadão, os funcionários já não aguentam mais ver candidatos pela frente. Ao me apresentar ao atendente de uma barraca de frutas, ouvi: "Se eu ganhasse um Real para cada candidato que eu dou a mão, tava rico". Outros funcionários confidenciaram que tem candidato a vereador que só aparece por lá para almoçar de graça.
Com a chegada de uma equipe de TV (para gravar a Expocachaça), resolvi deixar o Mercadão e dar uma circulada pela 25 de Março.
Muita gente, muito barulho e quase ninguém com dez segundos para ouvir um pobre candidato. Consegui abordar dois artista de rua. Uma estátua humana que encerrava seu expediente aceitou meu santinho, mas me acusou de, se eleito, não fazer nada. Irônico, vindo de alguém que ganha a vida parado.
Depois dela, coloquei meu santinho no chapéu de um sujeito que tocava Roberto Carlos no violão. Ele me fuzilou com os olhos e pediu, com educação/raiva, que eu tirasse "aquilo" de dentro do seu chapéu.