Nem cogitei me filiar numa dessas legendas grandes. A chance de ser reconhecido por um assessor ou dar de cara com um político - que eu mesmo já entrevistei - seria muito grande. Também evitei as siglas de forte teor ideológico, que poderiam dificultar a candidatura de um recém-convertido.
Mesmo com essas restrições, a sopa de letrinhas partidárias sempre foi farta. Fiz algumas ligações: "Eu quero ser candidato a vereador no ano que vem e gostaria de me filiar ao seu partido..." As respostas eram sempre positivas e descomplicadas. Em boa parte dos partidos, a filiação poderia ser feita online. Ou seja, com zero contato pessoal e com nenhum questionamento sobre meu caráter, tendência ideológica ou time de futebol. Nestas mesmas ligações, perguntei sobre futuras taxas e custos de filiação. Quase todos falaram em gastos com advogados e outros procedimentos normais. Coisa, em média, de uns R$ 250.
Escolhi um partido que tivesse histórico de lançar candidatos desconhecidos à Câmara Municipal - não são poucos. Embora tivesse a opção de me filiar pelo site, decidi visitar a sede da tal sigla e reconhecer o território. Mais uma vez, pensei em Marx, o Groucho, e tudo o que eu queria era um disfarce no mesmo estilo do comediante: óculos, bigode, sobrancelha pintada e charuto.
Lá fui eu! "Oi, estou aqui para me filiar", disse com cara de bobo. Na minha inocência, esperava ficar frente a frente com alguma liderança partidária, que me encheria de perguntas e até me poria medo. Nada disso.
Uma secretária pediu para que eu preenchesse um papel com informações básicas e pronto. A moça levou a ficha para uma sala e, 15 minutos depois, voltou com uma copia carimbada e um modelo de carteirinha de papelão.
Assim, nesse anticlímax acachapante, vinculei meu nome e vida (dramático!) a um partido político. Nada mais trivial e desimportante. Pronto, já posso pleitear a candidatura.