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O coronavírus poderia ser o fim das cidades como conhecemos?

Se perguntassem no ano passado, ninguém poderia imaginar que estaríamos vivendo um 2020 tão caótico. O coronavírus se alastrou pelo planeta em menos de dois meses e tivemos que repensar nossas rotinas e atividades, colocando o modelo de vida urbana de ponta à cabeça.

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Por Marcela Trópia é é graduada em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro , pós-graduada em Liderança e Gestão Pública pelo CLP  - Centro de Liderança Pública. Atualmente trabalha como Coordena
Atualização:

É claro que existe uma relação direta entre o espalhamento do vírus e o volume e velocidade das relações que estabelecemos nas cidades. Por essa razão, o distanciamento social foi, até o momento, a principal medida para conter essa disseminação de um vírus antes desconhecido. Seria esse o fim das cidades como conhecemos?

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Toda nossa concepção de urbanização vem sendo formatada pela maneira como interagimos uns com os outros, a forma que nos relacionamos no trabalho, como nos organizamos em bairros e nossos hábitos de consumo. Essa convivência foi o que fez as cidades crescerem e se desenvolverem nos últimos séculos e a pandemia mostrou como somos dependentes desse ritmo. Por mais que as coisas tenham se adaptado em muitas áreas do nosso dia a dia, a verdade é que a pandemia veio como uma ruptura na lógica urbana que conhecemos e estamos acostumados.

A solução seria, então, nos isolarmos em vilas? Ou sairmos das cidades para sítios? Me parece que não. O argumento de que o isolamento é a única forma garantida para evitar o vírus até pode nos conduzir para essas ideias de um êxodo urbano. Mas na prática, é a aglomeração em cidades que permite que tenhamos uma série de serviços e produtos essenciais ao combate à pandemia.

O fato de estarmos aglomerados em cidades permite que tenhamos milhares de interações todos os dias. Sejam elas afetivas, econômicas, criativas, de conhecimento, etc. As cidades são o ambiente para que soluções tecnológicas se desenvolvam. As comunidades potencializam as boas ideias. E, de forma mais pragmática e sob uma ótica de mercado, são as cidades que tornam a manutenção de um hospital, por exemplo, possível, tanto pela disponibilidade de equipamentos, de médicos e enfermeiros, quanto do ponto de vista da escalabilidade do negócio. E é assim para demais atividades que dependem de muita gente para se sustentarem.

Qual seria o equilíbrio, portanto? Cidades que se aglomerem o suficiente para que serviços e soluções sejam oferecidos, mas que não transformem a convivência das pessoas em uma bomba relógio de contágio? Bom, ainda não temos essa resposta ou protocolos perfeitos.

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Neste momento, não se pode abrir mão de leitos hospitalares, de pesquisa de ponta ou de laboratórios. O foco deve ser o de minimizar a disseminação a partir de políticas focadas em quem mais sente os efeitos da pandemia, orientadas para achatamento da curva e também para sairmos o mais rápido possível desse contexto.

É preciso ter paciência e esperar os desdobramentos da pandemia, para fazer uma reflexão mais profunda sobre os impactos nas cidades a partir dessa crise sanitária, em vez de descartá-las por completo. E antes de determinar que as pessoas se espalhem para fora dos centros urbanos, devemos focar em elaborar protocolos de segurança para que as conexões voltem a ocorrer de maneira segura. Afinal, elas são os pilares das nossas cidades.

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