André Lopes é líder MLG pelo Master em Liderança e Gestão Pública, educador, consultor e pesquisador de Autoconhecimento na Educação
25 de setembro de 2020 | 11h44
“Conhece-te a ti mesmo”, frase célebre atribuída aos gregos do período clássico. Através do autoconhecimento somos capazes de nos aprofundar em nossas luzes e sombras e de nos conhecer em nosso universo íntimo. Conscientes de nossa humanidade, somos capazes de nos conectar com o outro. Para o educando em fase crescimento neste mundo, o vínculo atento de um educador e o compartilhar das experiências de vida formarão um adulto mais consciente e maduro.
O autoconhecimento é conhecer-se, o mais profundamente possível, através da auto-observação nos diferentes aspectos de nossa existência: físico, emocional, intelectual e espiritual. Estar atento a si mesmo, nos movimentos, gestos, falas, hábitos, pensamentos e emoções; nos desejos, vontades, alegrias, medos, sofrimentos, doenças e sonhos; nas relações, amizades, desavenças, debates e discussões; nas reações instintivas aos fatos, nas crenças cristalizadas. É desnudar-se para si, sem julgar, com muito amor próprio.
O caminho da auto-observação é um ato de coragem, pois exige uma mudança em nosso foco do externo – do que outras pessoas ou grupos de pessoas falam, pensam, fazem e sentem – para o interno, trazendo para nós mesmos a responsabilidade de qualquer transformação que desejarmos. É dar espaço para se perceber na fala, nas ações, nos pensamentos e sentimentos ao longo do dia, bem como nas emoções que emergem: medos, ansiedades, alegrias e irritações. Com o tempo, é possível identificar como influenciamos o nosso dia, dependendo de como nos comportamos e de como somos influenciados pelos outros.
Outro aspecto desse caminho está relacionado a meditar sobre os acontecimentos que nos marcarem durante o dia – aqueles que normalmente levamos para cama e nos tiram o sono – tentar entender o que há de tão significativo para nós, o motivo pelo qual cruzaram nosso caminho. Por vezes, um acontecimento se repete em nossa cabeça: medite sobre sua intenção, sua responsabilidade e um possível sentido, não esperando uma resposta imediata ou certa, apenas se entregue à reflexão.
Ao investigarmos nós mesmos, nem sempre achamos coisas boas: há vaidade, apego, arrogância, egoísmo e medo. Por isso, amor próprio é fundamental para seguir nesse caminho, somos todos seres humanos com defeitos e qualidades dando o nosso melhor. Por outro lado, conhecer-se é um caminho de libertação. Estar presente nas falas, ações e pensamentos nos dá a oportunidade de escolher como agir ao invés de reagir sem pensar. Somos donos de nosso destino, podendo ser a pessoa que quisermos, nos libertando do que fazíamos, do que não nos faz mais sentido ou não nos serve mais. Temos o poder de mudar nós mesmos, de fazer algo diferente, de mudar nosso destino, de não ser mais vítimas do externo.
Mas quais são os aprendizados que o autoconhecimento pode nos proporcionar para a prática de educador? Como educadores, convivemos com estudantes jovens que são seres humanos, igual a nós, mas que se distinguem por sua pouca experiência de vida: estão na fase de desenvolvimento físico, emocional, intelectual e espiritual, colhendo modelos de comportamentos dos adultos com os quais convivem, estão se descobrindo e absorvendo seu entorno para escolher como enfrentar a vida.
São muitos os desafios do viver, para os jovens destaco a necessidade básica de alimentar-se, de ter uma habitação e de ter vínculos afetuosos duradouros com adultos. O seio familiar nem sempre garante estas condições, o que impacta no desenvolvimento físico, intelectual e emocional de cada criança de um jeito diferente, pois sempre existe um contexto, uma necessidade e um ser humano diferente.
Não pretendo dissertar aqui sobre o papel da escola; o fato é que sua influência no desenvolvimento da criança é determinante, principalmente até os sete anos, sendo seus professores os maiores agentes desse impacto. Creio ser consensual a afirmação de que todo professor tem de ensinar algum conteúdo – mas acrescento que o educador é também modelo: de atenção, respeito, afeto, falas, vocabulários, comportamentos e desavenças na escola.
Ciente ou não, o professor é referência comportamental e psicológica para seus alunos, sua responsabilidade vai além do desenvolvimento de conteúdos intelectuais e sua contribuição forma o adulto – professores transformam a vida dos alunos e alunas (quem não se lembra de um professor que, positiva ou negativamente, marcou sua trajetória?). A responsabilidade de lecionar, seu impacto e potencial são determinantes na formação da próxima geração. Como você, Educador deseja ser lembrado?
“Conhecer-se é um caminho para aproximar-se do outro. O vínculo Professor-Aluno é fundamento para o educar para vida”
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