Humberto Dantas
19 de julho de 2019 | 12h02
Autor do texto:
Lucas Porto é líder MLG pelo Master em Liderança e Gestão Pública – MLG , bacharel em Relações Internacionais e MBA em Economia. Já atuou na área de inteligência de consultoria e hoje gerencia a área de desenvolvimento e liderança no CLP – Liderança Pública.
Neste conteúdo, Lucas comenta sua experiência vivida no módulo internacional do MLG, compartilhando reflexões e insights que o líder produziu conjuntamente com o grupo de alunos que também estava com ele nessa semana intensiva de desenvolvimento pessoal e profissional. Confira:
“Pessoas são estúpidas porque votam em populistas.” Será que são mesmo?
Este foi apenas um dos grandes questionamentos aos quais a turma de líderes públicos do Master em Liderança e Gestão Pública – MLG foi exposta durante o módulo internacional do curso na Blavatnik School of Governement, dos dias 24 a 28 de junho.
O questionamento acima, levantado por uma das professoras do curso, traz à tona a real discussão e desafio que não estamos assumindo enquanto cidadãos, gestores públicos e indivíduos: o governo está falhando em atender as novas necessidades da sociedade. Classificar as pessoas como estúpidas é meramente uma polarização do debate, fruto do descontentamento das pessoas com sua qualidade de vida e oportunidades e com a falta de capacidade emocional de lidar com seus medos e incertezas.
Faço aqui uma tentativa, sob a ótica pessoal, de compartilhamento das discussões, reflexões e dos principais insights que este grupo produziu conjuntamente nesta semana intensiva de desenvolvimento pessoal e profissional.
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Embora não seja uma tarefa simples sistematizar todos os conhecimentos – quiçá digerir todos os sentimentos – provenientes desta experiência, é possível apontar que construímos aprendizados em torno de três grandes pilares:
Desde novos modelos de avaliação e implementação de políticas públicas como as parcerias público-privadas, frameworks de mapeamentos de premissas, insumo e entregas, modelos de organização do serviço civil até técnicas de economia comportamental, o grande aprendizado é que o governo precisa reformular sua estratégia de atuação para garantir a manutenção da confiança, acesso a oportunidades, qualidade de vida e regulamentação do uso dos recursos.
Para tanto, a gestão pública precisa abranger o domínio de implementação de mudanças incrementais. Grandes mudanças começam no nível micro, com objetivos e ações claros com espaço para aprendizados e mudanças de rota ágeis. Outro fator fundamental para um governo do futuro é a formulação e implementação de políticas a partir de um arranjo inovador e coeso entre governo, setor privado e sociedade. Não é mais possível que estes atores ajam como se cada um estivesse em um sistema isolado. Ou seja, construir coalizões de mudanças e, mais do que isso, coalizões não prováveis é regra de ouro para mudanças efetivas e perenes.
Para fazer tudo isso acontecer e enfrentar os desafios de um mundo volátil, incerto e complexo vai ser necessária muita liderança. O primeiro passo é desmistificar o imaginário da liderança como um(a) super-herói(na). São pessoas. Que erram, que não sabem todas as respostas e que não são – e nem atuam – como salvadoras da pátria.
Entretanto, são pessoas distintas. São pessoas com visão de Estadista, isto é, dispostas a colocar o interesse público genuíno acima do interesse umbilical. Pessoas com consciência que problemas complexos se resolvem em rede, e por isso, desenvolveram alta capacidade de unir expertises e tomar decisões sábias de maneira ágil. Pessoas com alto nível autoconhecimento e com capacidade de construir um senso de coletividade em torno de um propósito ou ideia único e futuro. E, mais do que construir uma narrativa, são pessoas que fazem o que falam, pois têm a coragem de expor a verdade.
Não menos importante, discutimos muito os desafios de nossa cultura e sociedade. Ficou claro que somos uma democracia jovem, cheia de contrassensos, privilégios e falhas, mas, ao mesmo tempo, uma sociedade com um “jeitinho” inovador, resiliente e alegre. É nosso papel, enquanto cidadãos e, mais ainda,
enquanto líderes públicos, assumir a responsabilidade dos erros para definir o lugar do Brasil no mundo.
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