O impacto do excesso de peso e da obesidade na vida das pessoas traduz-se em diabetes, câncer, doenças osteoarticulares e patologias relacionadas à saúde mental, como a depressão, afetando a qualidade de vida, sobrecarregando e encarecendo os sistemas de saúde e levando o Brasil a crescentes índices de adoecimento e de mortalidade. Para dimensionar um dos aspectos do problema, vejamos os números de cirurgias bariátricas: em dois anos (entre 2014 e 2016), houve um crescimento de 20% nesse tipo de procedimento somente entre beneficiários de planos de saúde.
Fica clara a importância de políticas públicas que busquem não apenas remediar o problema, mas também provocar uma reflexão sobre como os indivíduos fazem as suas escolhas quando se trata de saúde. No caso do excesso de peso, é importante analisar o que leva as pessoas a adotarem um estilo de vida e uma dieta mais ou menos saudáveis e a serem mais ou menos sedentários. É urgente uma séria discussão sobre as causas que estão levando o Brasil ao alarmante crescimento da obesidade e à implementação de medidas efetivas para combater tais problemas.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vem traçando estratégias para estimular a organização da sua rede de atenção ao cuidado ao estimular as operadoras de planos de saúde a desenvolverem ações focadas em prevenção. Nesse sentido, as iniciativas têm prosperado: há cerca de dez anos não existiam mais de 50 programas voltados à prevenção, hoje são mais de 1,5 mil. Em 2017, a ANS elaborou o Manual de Enfrentamento da Obesidade na Saúde Suplementar. O grupo de trabalho contou com diversos especialistas e estabeleceu diretrizes e protocolos para o rastreio e a abordagem dos pacientes com obesidade. Entre as propostas, está a recomendação de que o cálculo do índice de massa corporal (IMC) seja realizado em todos os pacientes que procuram assistência médica, assim como ações em programas de prevenção precoce em crianças e adolescentes em risco de desenvolver a obesidade infantil.
Hoje, temos um modelo de saúde que estimula a realização de procedimentos e exames e não o cuidado e a atenção ao paciente. Tal modelo, somado ao sedentarismo de grande parcela da população, torna-se extremamente prejudicial para o enfrentamento da obesidade. Em um país com tantas diferenças sociais, temos que pensar, por exemplo, em levar atividades físicas para todas as camadas da população e em medidas para facilitar e estimular o acesso da população a alimentos saudáveis e nutritivos. Isto é, são necessárias ações conjuntas e multifatoriais que ataquem o problema em diversas frentes.
É importante sair do sedentarismo, começar a se movimentar. As lideranças do setor de saúde precisam levar em conta o fato de que as doenças crônicas são as maiores causas de morte no mundo e perceber que as organizações têm a capacidade de agir, que a colaboração e a formação de parcerias podem nos ajudar a sair da inércia e a iniciar um movimento de inovação que contribuirá para uma resposta mais coordenada para esse problema crítico que afeta a todos nós.