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Transformando a gestão pública brasileira e fortalecendo a democracia

A transformação digital no setor público

Por Rodolfo Fiori , diretor da Muove , líder MLG pelo Master em Liderança , Gestão Pública e do CLP.
Atualização:

A transformação digital tem batido na porta de quase todos os setores da economia, gerando benefícios e preocupações por onde passa. A penetração da internet aumentou fortemente no Brasil: em banda larga, tivemos um aumento de 79% em assinaturas entre 2010 e 2014 e, para o caso de banda larga móvel, o crescimento no mesmo período foi de 825%, atingido 123,6 milhões de assinaturas. No caso do setor público, apesar de ser um processo mais moroso, somente 61% dos brasileiros acessaram serviços públicos digitais em 2016. O percentual de brasileiros utilizando serviços públicos digitais é baixo, especialmente se considerarmos que a maioria dos acessos foram para um espectro limitado de serviços como, por exemplo, declaração de imposto de renda.

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Na esteira das grandes transformações digitais ocorridas em países desenvolvidos como Inglaterra, Polônia, Singapura e outros, o governo federal brasileiro solicitou à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) um estudo com recomendações para nossa transformação digital. O estudo identifica seis atributos essenciais de governos digitais que derivam em ações práticas que podemos implementar em território nacional.

A primeira recomendação sugere que o governo passe de uma administração pública centrada no usuário para uma administração conduzida pelo usuário. Neste sentido, prioriza-se uma abordagem em que o governo adote medidas para que os cidadãos e empresas possam definir e comunicar as suas próprias necessidades, conduzindo a elaboração de políticas públicas e implementação de serviços eletrônicos.

Um segundo aspecto apontado é a mudança de uma postura reativa da sociedade na elaboração de políticas públicas para uma postura pró-ativa. A ideia aqui é que o governo seja capaz de antecipar movimentos de desenvolvimento econômico e social, propondo políticas públicas e serviços que atendam usuários nestas novas realidades socioeconômicas.

A organização recomenda também que governos se comportem cada vez mais como plataformas para cocriação de valor público. Neste sentido, governos utilizariam tecnologias digitais e dados para conectar partes interessadas para que estas possam, em conjunto, propor soluções para os desafios atuais. O governo é a plataforma que articula estas partes em prol de um desafio comum a todas.

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Dados e acesso a informação fazem parte de duas outras recomendações. A OCDE aponta que governos devem sair de um modelo centrado na informação e migrar para um novo modelo orientado por dados. A orientação de iniciativas por dados de usuários facilita o entendimento dos perfis de consumo dos serviços públicos, permitindo a antecipação de tendências sociais e a prestação de serviços de acordo com necessidades dos cidadãos. Juntamente com a utilização de dados, a organização recomenda a adoção de um governo que tenha a abertura de dados como padrão (open by default), ou seja, governos se comprometendo de forma pró-ativa com a divulgação de dados em formatos abertos, facilitando o acesso pela sociedade.

Por último, é necessário termos novos processos sendo pensados num formato digital desde sua concepção (digital by design). O mais importante neste atributo não é simplesmente fazermos um esforço para digitalizar os processos como são hoje, e sim começarmos a pensar como qualquer novo processo na administração pública possa ser digital na sua criação. Este mindset permitirá a reestruturação completa dos processos sem as amarras já existentes na burocracia atual.

A transformação digital de governos já bateu na nossa porta, cabe a nós abri-la e recebê-la da melhor forma. Nossos cidadãos já interagem massivamente no mundo digital e governos precisam acompanhar este processo se quiserem responder aos anseios de uma nova era.

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