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O outro lado da notícia

A CPI das fake news, as milícias digitais e a censura

Sob o argumento de que a investigação representa uma ameaça à liberdade de expressão, bolsolavistas querem institucionalizar o vale tudo nas redes sociais

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Por José Fucs
Atualização:

 Foto: Pixabay/ LoboStudioHamburg

Diante da perspectiva de que manobras escusas nas redes sociais venham à tona, na CPI das fake news e no inquérito aberto a mando de Dias Toffoli, presidente do Supremo, a tropa de choque bolsolavista entrou em estado de alerta.

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As duas investigações, turbinadas nos últimos dias pelas acusações da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e do ex-ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, tornaram-se alvo da artilharia das milícias digitais bolsolavistas. Como se quisessem, desde já, "vacinar" a opinião pública contra os podres que poderão emergir das apurações, passaram a "denunciar" o que consideram como uma articulação sórdida para silenciar o grupo na internet, para conter as críticas a seus desafetos.

Quase ao mesmo tempo, figurinhas carimbadas do bolsolavismo começaram a dizer que estão querendo instaurar a "censura" e impedir a "liberdade de expressão" no País. Passaram a falar também que pretendem colocar no banco dos réus "gente comum" e "cidadãos privados", que nada mais fazem além de dar suas opiniões nas redes sociais.

"Querem promover o 3º turno das eleições", afirmou o deputado Eduardo Bolsonaro. "As narrativas que alimentam a tentativa calhorda e cínica de criminalização da defesa do governo na internet também vão avançando" disse o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe G. Martins.

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De acordo com tal narrativa, os linchamentos virtuais promovidos pela rede bolsolavista contra críticos e adversários do presidente, relatados por diversas vítimas e fontes que conhecem seu funcionamento por dentro, seriam uma peça de ficção, uma fantasia montada por "liberalóides", pela "esquerda" e pelos derrotados na eleição de 2018, para inviabilizar o governo Bolsonaro. Em meio às teorias conspiratórias que prosperaram por aí, houve até quem dissesse que a intenção maior seria criar as bases para o processo de impeachment de Bolsonaro deslanchar.

Segundo essa visão, a impressão que se tem é de que a "infantaria" digital bolsolavista é formada por "freiras", que agora serão "caçadas" e "interrogadas" simplesmente por expressar seus pontos de vista nas redes sociais e mostrar o lado positivo do governo. No mundo real, porém, a estratégia adotada pelos integrantes da seita é de intimidar, muitas vezes de forma truculenta, quem defende a investigação das ações das milícias digitais e a propagação de fake news.

A estratégia de acusar os apoiadores das investigações de defender a censura e de querer limitar a liberdade de expressão nada mais é do que uma forma de autoproteção contra iniciativas que podem revelar como opera o grupo bolsolavista no subterrâneo das redes sociais e apontar seus malfeitos.

Mas, ao contrário do que eles dizem, a liberdade de expressão não representa um salvo conduto para divulgar fake news e achincalhar os críticos e adversários na internet, inclusive por meio perfis falsos e robôs, nem para usar servidores pagos com dinheiro público para promover linchamentos virtuais. Tampouco representa uma tentativa de instaurar um 'ministério da verdade", para arbitrar o que seriam e o que não seriam fake news.

Imaginar que a divulgação de notícias falsas e a difamação em rede possa continuar a ocorrer impunemente é querer institucionalizar o vale tudo que existe hoje na web, para o qual não faltam exemplos e testemunhas. Não é preciso ser iluminado pela luz divina para apurar quando isso acontece e identificar os responsáveis pelos atos de vandalismo digital.

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Como diz o velho dito popular, quem não deve não teme. Quem não tem culpa no cartório, não tem por que se preocupar com a instalação da CPI e a abertura do inquérito solicitado por Toffoli. Tampouco precisa acusar quem defende as duas investigações de apoiar a censura, promovendo cyberbullying contra os críticos, especialmente aqueles vinculados à direita.

Agora, se os integrantes do gruppo bolsolavista realmente nada fazem além de expressar suas opiniões nas redes, como afirmam, eles não têm nada a perder. Ao contrário. Sairão até fortalecidos no final. A questão é que, pelas reações às investigações, talvez nem eles mesmos acreditem nisso.

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