Simples e sem estresse

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Por crespoangela
Atualização:

Texto Maíra Teixeira

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Viver melhor, com menos coisas. Esse é o ideal de quem adota a simplicidade voluntária como estilo de vida. Geralmente, são pessoas que já tiveram um alto padrão de vida, mas não se sentiam satisfeitas mesmo cercadas de tudo o que a sociedade classifica como status, sucesso e vitória. Um exemplo disso é a trajetória de Susan Andrews, coordenadora do Parque Ecológico Visão Futuro (www.visaofuturo.org.br), uma ecovila em Porangaba, no Interior do Estado.

"Há mais de 30 anos, deixei para trás uma vida extremamente confortável nos Estados Unidos para viver uma outra vida como monja, ensinando meditação e me engajando em projetos de serviço social."

Ela não sente que abdicou de nada. "Sinto-me imensuravelmente mais feliz agora do que quando eu estava em um ambiente materialmente luxuoso." Esse pensamento, de não sentir a mudança do padrão de vida como uma perda, segundo Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu Pelo Consumo Consciente, é o que caracteriza a simplicidade voluntária. "A pessoa passa a questionar a idéia tradicional de que para se ter benefícios é preciso aumentar cada vez mais a sua renda. Elas sabem que ganhar mais não significa ter menos estresse. Mas isso tudo tem de ser espontâneo, sem sofrimento."

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Susan ressalta que se deu conta de que mais não é melhor. "Mais bens materiais não tornam uma pessoa mais feliz. Na realidade, pesquisas mostram que as maiores fontes de felicidade na vida humana são recompensas não materiais como: relacionamentos próximos e afetuosos, uma sensação de estar fazendo uma contribuição criativa ao mundo, uma vida interior plena e profunda."

O secretário municipal de Verde e Meio Ambiente da Capital, Eduardo Jorge, acredita que está caminhado para a simplicidade voluntária. "Eu tenho atitudes que correspondem a essa ideologia, mas seria pretensioso dizer que cumpro todos os preceitos dela. Acredito ser esse o único conceito revolucionário, criado no século 20, que permanecerá com seu potencial transformador cada vez mais abrangente. Todos os outros conceitos serão reciclados", diz. Ele conta que, sempre que pode, sai da sua casa, que fica a quatro quilômetros da secretaria, e vai trabalhar de bicicleta. "O ideal seria que nos libertássemos do domínio do automóvel, que é uma invenção maravilhosa, mas o problema é que viramos prisioneiros dele. Não posso vir trabalhar todos os dias de bicicleta porque não sou atleta, tenho muitos compromissos em regiões em extremos da Cidade. Acho natural que as pessoas utilizem mais veículos não motores e os próprios pés como meio de transporte."

Eduardo Jorge trabalha diariamente a cultura dos 3 Rs (reduzir o consumo, reutilizar e reciclar),em casa e na secretaria, e é vegetariano. "Faço isso por amor à humanidade. Já fomos expulsos do paraíso uma vez e, por conta do desequilíbrio e desrespeito do ser humano, corremos o risco de ser novamente expulsos, só que pela natureza."

Apesar de pouco conhecida aqui no Brasil, a simplicidade voluntária é praticada há anos em países da Europa e era citada por Mahatma Gandhi, junto com o cultivo da paz e da não violência.

17% adotam a simplicidade voluntária

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De acordo com a recente pesquisa "Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente", do Akatu, 33% da população brasileira é formada por consumidores conscientes. Desse total, 17% têm o nível mais elevado de consciência, vivem sob a ótica da simplicidade voluntária. Ou seja, adotam comportamentos diferentes da população consumista, que representa 67%, entre os mais e menos conscientes.

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Segundo Helio Mattar, a tendência se caracteriza pela forte aspiração pela simplicidade. "Esse tipo de pessoa pensa antes de comprar algo. Não é o não consumo radical, mas, sim, a escolha por produtos de alta durabilidade, a rejeição pelos descartáveis e a compra de artigos essenciais", define Mattar.

Quanto maior a adesão à simplicidade voluntária, maior é a disposição para adotar um consumo consciente. Outros comportamentos típicos são: a priorização da compra do produto mais simples, a busca da felicidade com o pouco que se têm, a preferência por escolhas que levam à vida sem estresse, mesmo que com renda menor.

"A pessoa não acredita que ganhar mais dinheiro traga mais benefícios."Outros fatores determinantes desse grupo de pessoas correspondem a visão que têm do mundo: "são anti-hedonistas (que não buscam o prazer imediato) e anti-materialista, ou seja, não buscam apenas o prazer, nem acreditam que precisam ter bens para se sentirem cidadãos."

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