Serviços: queixas aumentam 425%

Renée Pereira

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Por Marcelo Moreira
Atualização:

A instabilidade dos serviços de energia elétrica, internet, TV a cabo, telefonia e transportes (aéreo e terrestre) tem virado um tormento para muitos consumidores. A insatisfação tem se traduzido no aumento de reclamações. Só na Fundação Procon-SP, as queixas relacionadas aos chamados serviços essenciais cresceram 425% entre 2005 e 2009, de 4.502 para 23.674. O

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O segmento representou 38% de todas as reclamações no órgão no período. Nas agências reguladoras, que fiscalizam boa parte desses serviços, o descontentamento também cresceu: 123% na telefonia; 85% em energia; e 127% em transportes.

Apesar da inegável expansão do atendimento à população nos últimos anos, a qualidade desses serviços ainda é questionável, especialmente quando se consideram as elevadas tarifas - em alguns casos, as maiores do mundo.

Além do difícil relacionamento com as prestadoras, cobranças indevidas e questões contratuais, os consumidores protestam contra a oferta não cumprida - a interrupção dos serviços - e os prejuízos, diz o diretor do Procon-SP, Paulo Arthur Góes. Hoje, afirma, os clientes estão muito menos tolerantes com a má qualidade dos produtos que lhes são entregues.

Afinal, na vida moderna, esses serviços viraram itens de primeira necessidade para muita gente. Uma hora sem representa enorme desconforto e prejuízo. O problema é que algumas pessoas têm ficado dias sem eles. É o caso de Maria Aparecida Oliveira, moradora de Mauá, que ficou dois dias sem luz, há duas semanas.

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Além de perder alimentos, ela teve de mudar sua rotina, como tomar banho na casa da irmã. Santiago Saadia ficou cinco dias sem TV a cabo, bem nas férias do filho. "Ainda bem que existe o DVD", diz ele, morador da capital.

O número de reclamações coincide com os poucos indicadores que as agências têm para medir a qualidade dos serviços. No setor de energia, por exemplo, o número de "apagões" subiu nos últimos três anos, de 16 horas para cerca de 20 horas.

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, já disse que a piora dos índices pode estar associada à falta de investimento na manutenção e expansão da rede. Mas afirmou que as empresas têm sido punidas.

Para o gerente da A.T. Kearney, Carlos Azevedo, um dos fatores que podem ter contribuído para a deterioração dos indicadores de energia no curto prazo é o forte crescimento da demanda, acima da expectativa. Ele avalia, porém, que é cedo para afirmar se a piora é tendência de longo prazo.

O executivo acredita que, no processo de revisão tarifária, que ocorre de quatro em quatro anos, a Aneel vai criar incentivos para premiar empresas que se destacam em qualidade.

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No setor de telecomunicações, a agência reguladora (Anatel) conta com o Plano Geral de Metas de Qualidade, que também piorou. Em 2005, as empresas cumpriram 97,5% das metas de qualidade estipuladas. Em 2009, esse número caiu para 82,9%. Os índices da telefonia móvel ficaram estáveis no período, mas as empresas também não conseguiram cumprir 100% das exigências.

Para Thiago Moreira, diretor da Telecom Nielsen, no Brasil a prioridade das companhias é crescer; nos Estados Unidos, por exemplo, é de retenção dos clientes. Especialistas avaliam que, a exemplo da energia, falta investimento para acompanhar a demanda.

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