O impacto do consumo na natureza

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Por crespoangela
Atualização:

Texto de Aiana Freitas

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Que a economia de energia faz bem ao bolso, uma vez que reduz o valor da conta mensal, todo mundo está cansado de saber. Poucas pessoas têm consciência, porém, de outro resultado importante que esse tipo de economia produz no longo prazo, e está relacionado, ainda que indiretamente, com a conservação do meio ambiente.

Fazer a relação entre o consumo de energia e o ambiente em que vivemos, porém, não é difícil. Basta começar pensando que, com o aumento do consumo, torna-se necessário um aumento na geração de energia elétrica. "No Brasil, quase a totalidade da energia é gerada por meio de hidrelétricas. Para se construir novas hidrelétricas, é preciso alagar mais regiões. E, para que o alagamento seja feito, é preciso retirar famílias de seus locais de origem" lembra o presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Hélio Mattar.

Para Mattar, a migração compulsória das famílias é, quase sempre, um processo doloroso do ponto de vista social. "Afinal, elas são deslocadas para regiões que muitas vezes não têm relação com sua história e sua cultura", explica. Isso sem contar, claro, que as áreas alagadas contêm reservas de fauna e flora que se perdem e nunca poderão ser compensadas. Mattar lembra ainda do caso da região de Canudos, no sertão baiano, que foi inundada para se transformar na Represa de Sobradinho. "Ali havia, além de tudo, o valor histórico do local."

Se todos esses motivos já não fossem suficientes para que se propague a necessidade de conservação de energia, resta ainda outro, não menos importante: o custo da construção de uma usina hidrelétrica. Embora atualmente se construam usinas de menor porte, no geral elas são obras monumentais, com barreiras, turbinas, máquinas e outros equipamentos. Tudo isso requer muito investimento. E quem faz esse investimento é o governo. A questão é que esse dinheiro poderia ser aplicado em outras áreas, como na melhoria no sistema Judiciário, na construção de escolas e hospitais, no combate ao rombo da Previdência Social, por exemplo.

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"Assim, ao gastar energia elétrica além do necessário, o consumidor não está fazendo nada mais do que jogar sua educação, sua saúde e a Justiça do País no lixo", resume o presidente do Akatu.

Risco de racionamento afastado até 2010

A demanda de energia elétrica do País até 2010 está, teoricamente, garantida. A afirmação foi dada pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, ao fim do leilão de novas energias realizado pelo governo federal em dezembro do ano passado para definir o cronograma de construção de novas usinas.

Se a afirmação afasta a possibilidade de um novo racionamento até lá, para o meio ambiente as notícias não são das melhores. Isso porque quase 70% dos 3.286 megawatts (MW) leiloados no ano passado serão gerados por termoelétricas.

As hidrelétricas perderam espaço no leilão por conta da demora na obtenção do licenciamento ambiental, emitido por órgãos estaduais e pelo Ibama. A obtenção de licenciamento da termoelétrica é mais rápida, uma vez que sua construção atinge uma área menor.

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Mas, embora a construção de hidrelétricas provoque um impacto ambiental e social imensurável, as termelétricas queimam combustíveis fósseis e lançam mais carbono na atmosfera - é o que se chama de energia "suja". Se todas as termelétricas que serão construídas funcionarem ao mesmo tempo, lançarão mais 11,35 milhões de toneladas de gás carbônico (CO²) na atmosfera.

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Assim, para o secretário de Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg, especialista em energia, o País não pode abandonar as hidrelétricas. "É andar na contramão", resume.

E qual seria, então, a solução para suprir a demanda de energia elétrica do País? Para o presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Hélio Mattar, a disseminação da cultura da economia. "O consumidor comum tem uma importância muito grande nesse processo. Claro que as indústrias são grandes consumidoras, mas elas são operadas por pessoas e se essas pessoas forem econômicas em casa, vão levar esse conceito também para o trabalho."

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