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Álcool gel: risco é grande

Por crespoangela
Atualização:

Texto de Eleni Trindade

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Um teste realizado pela Pro Teste com álcool líquido e com álcool gel mostrou que o consumidor que usa esses tipos de produtos em casa está submetido a grandes riscos. "Levar uma garrafa de álcool para casa é brincar com fogo", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pro Teste.

Foram analisadas 18 marcas - metade álcool líquido e metade álcool gel. "O resultado nos preocupa muito, pois álcool em gel é tão perigoso quanto o líquido", destaca Maria Inês. Ou seja: independentemente da forma de apresentação do álcool, se os dois tipos tiverem o mesmo teor alcoólico, o risco de combustão é idêntico. Quanto maior for o grau, mais facilmente o álcool pega fogo - e, dos 18 produtos testados, 11 foram reprovados nesse quesito.

Outro foco de preocupação é a embalagem, pois nem todas resistem à queda. Nos ensaios, entre outros testes, as embalagens foram jogadas de alturas e posições diferentes - três tiveram as tampas quebradas.

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Nos demais itens (informação do rótulo e qualidade do material das garrafas), não foram detectados problemas. "Como as garrafas não têm lacres, o risco de uma criança ter acesso ao produto é maior", afirma Maria Inês. "As pessoas têm de se conscientizar de que não podem comprar esse produto, pois isso significa arriscar vidas", completa.

No quesito ação bactericida - razão que leva muitas donas de casa a lançar mão do produto na limpeza doméstica - , os produtos tiveram bom desempenho, mas, segundo especialistas, o risco não compensa. "Para nós, do setor de saúde, o contato com casos de queimaduras é diário, mas as pessoas não se dão conta da dimensão do problema", afirma Jorge Carlos Machado Curi, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) e membro da Associação Médica Brasileira (AMB).

"Para termos uma idéia, até uma entidade do setor, a Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool (Abraspea), tem uma pesquisa que mostra que, de 509 entrevistados, 5% relataram acidentes domésticos com o uso do álcool", acrescenta o médico. "Nossa obrigação é conscientizar os cidadãos de que há outros produtos à venda com as mesmas funções de limpeza ou de acendimento de fogo com a vantagem de não oferecerem risco de queimaduras e incêndio."

Com base no teste, foi criada a "Frente Nacional de Combate aos Acidentes com Álcool". Formada pela Associação Médica Brasileira, Associação Paulista de Médicos, Sociedade Brasileira de Queimadura, ONG Criança Segura e Proteste, a frente quer mobilizar os brasileiros.

"Isso é necessário porque a questão é muito grave", afirma Cecília Lotufo, coordenadora de projetos da Criança Segura."Queremos urgência na votação pelo Congresso Nacional dos projetos de lei sobre restrições à venda do álcool, que a Anvisa revise as normas de comercialização do produto, uma política de combate e prevenção do álcool em ambiente doméstico e um cadastro nacional de registro de queimaduras", enumera Cecília.

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As crianças são as mais afetadas. "Elas são vítimas em um terço dos casos e têm a pele mais sensível, o que faz com que a suas lesões sejam sempre mais graves."

Poucos dados

As estatísticas sobre casos de queimaduras ainda são escassas. No Hospital do Servidor Público, por exemplo, 131 vítimas de queimaduras foram atendidas em 2006 e, destas, 17 eram crianças. Em mais de 70% dos casos, houve necessidade de internação em UTIs - e o custo é alto: em torno de R$ 3 mil/dia.

"Quando a resolução da Anvisa que proibia a venda de álcool estava em vigor, houve redução de 50% dos casos. Por isso fazemos todas essas reivindicações", resume Cecília.

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