Documentos vazados revelam que o escritório de advocacia pertencente a um integrante do comitê de ética na FIFA tinha relações comerciais com três homens que foram indiciados no escândalo de corrupção da entidade que coordena o futebol mundial. Os arquivos confidenciais revelam acordos anteriormente desconhecidos entre os três homens e Juan Pedro Damiani, integrante do Comitê Independente de Ética da FIFA, que tem tomado decisões a respeito de uma série de expulsões de altos executivos da organização.
Os registros mostram que Damiani e seu escritório de advocacia trabalharam para pelo menos sete companhias offshore - empresas abertas em paraísos fiscais - ligadas a Eugenio Figueredo, ex-vice-presidente da FIFA, que está na mira das autoridades norte-americanas. Após ser preso na Suíça, em maio de 2015, ele admitiu ter participado do esquema de pagamento de propinas a dirigentes da Fifa por meio de empresas de TV e de marketing para garantir os contratos de transmissão dos campeonatos de futebol na América do Sul.
Os documentos também indicam que o escritório de advocacia de Damiani serviu de intermediário para uma empresa sediada no Estado de Nevada (EUA) ligada a Hugo e Mariano Jinkis, respectivamente pai e filho. Os dois formam uma equipe de empresários que têm sido acusados de pagar dezenas de milhares de dólares em suborno para conseguir os direitos de transmissão para eventos da FIFA na América Latina. Os documentos não mostram a existência de conduta ilegal da parte de Damiani ou de seu escritório de advocacia. O material, contudo, levanta novas questões tanto a respeito de Damiani quanto da FIFA, em um momento em que a ligação entre offshores e corrupção se torna um tema de crescente preocupação das autoridades no âmbito do esporte mais popular do mundo.
Damiani, presidente do Club Atlético Peñarol, do Uruguai disse que seu escritório de advocacia não mantém “qualquer relacionamento profissional” com qualquer pessoa indiciada na investigação sobre a FIFA. Ele, contudo, não respondeu uma pergunta sobre relacionamentos prévios de trabalho com pessoas indiciadas no caso.
Um porta-voz do comitê de ética da Fifa confirmou, no entanto, que Damiani informou ao órgão, em 18 de março, que ele teve negócios com Figueiredo. O episódio aconteceu um dia depois que o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos enviou perguntas a Damiani sobre os trabalhos de sua empresa de advocacia para companhias ligadas ao antigo vice-presidente da Fifa.
Leia mais sobre os arquivos da Mossack Fonseca no site panamapapers.icij.org (em inglês).
*Repórteres do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos