PUBLICIDADE

Ex-mordomo da família Le Pen aparece nos 'Panama Papers' com 2,2 milhões de euros

Jean-Marie Le Pen, patriarca e pai da atual favorita das pesquisas de opinião à presidência da República, é investigado por fraude fiscal e lavagem de dinheiro

PUBLICIDADE

Por Andrei Netto e correspondente
Atualização:
Jean-Marie Le Pen Foto: AFP

Paris - O escândalo Panama Papers atingiu em cheio nesta terça-feira, 5, uma das dinastias políticas mais importantes da França: a família Le Pen. De acordo com investigações do jornal Le Monde realizadas a partir dos documentos da Mossack Fonseca, testas de ferro do patriarca Jean-Marie Le Pen e de sua mulher, Jany Le Pen, teriam omitido a existência de contas bancárias em Guernesey com no mínimo € 2,2 milhões em dinheiro vivo, barras de ouro e jóias.  Desde junho de 2015 o Ministério Público Financeiro de Paris investiga as suspeitas de lavagem de dinheiro e fraudes fiscais envolvendo uma empresa secreta nas Ilhas Virgens Britânicas. Os indícios foram detectados depois que o nome de Gérald Gérin, ex-mordomo da família e homem de confiança de Le Pen, foi encontrado como sendo o titular da empresa offshore Balerton Marketing Limited, criada no Panamá em 2000 com a ajuda do escritório Mossack Fonseca. Os magistrados franceses descobriram que a conta do ex-mordomo inclui € 97 mil em dinheiro vivo, 854 mil em títulos de propriedades e 26 barras de ouro puro, além de jóias em ouro. O desafio das autoridades é estabelecer o vínculo entre a fortuna encontrada e seus verdadeiros donos, já que o MP Financeiro tem a convicção de que Gérin não passa do laranja da empresa. O que as investigações já apontaram é que parte dos recursos, exatos € 506 mil em depósitos bancários, foram feitos em setembro de 2004 a partir de uma conta bancária do banco suíço Lombard Odier Darier Hentsch & Cia (LODH).

Esse banco era o mesmo que administrava a fortuna do empresário Hubert Lambert, de quem Jean-Marie Le Pen foi herdeiro. O mesmo banco também foi responsável pela compra do ouro encontrado na conta da Balerton. Ao Le Monde, o ex-mordomo afirmou que o dinheiro encontrado na conta da empresa no Panamá "não tem nada a ver com Jean-Marie Le Pen". "Eu nunca servi como laranja de Jean-Marie Le Pen", argumentou. A defesa do líder de extrema direita e fundador da Frente Nacional também exclui qualquer relação. "Os casos de Gérin concernem apenas Gérin", alegaram seus advogados. O escândalo envolvendo a família atinge em cheio a filha do casal, Marine Le Pen, hoje líder da Frente Nacional e primeira colocada nas pesquisas de opinião. Para um dos líderes do partido, Florian Philippot, as revelações provam que "nenhum líder atual" da Frente Nacional está envolvido no escândalo. Jean-Marie Le Pen foi excluído do partido em 2015, após uma briga política entre membros da família.

Marine Le Pen Foto: Robert Pratta/Reuters

PUBLICIDADE

'Lista negra'. Também nesta terça, o ministro das Finanças da França, Michel Sapin, afirmou que o Panamá deve ser colocado de volta em uma lista de países que não cooperam com o Fisco francês após a revelação dos Panama Papers.

Em uma audiência na Assembleia Nacional, Sapin afirmou que o Panama enganou a comunidade internacional ao fazê-la crer que seguia as práticas adotadas internacionalmente.

"O país conseguiu ser removido da lista de paraísos fiscais. Isto não é mais possível", disse Sapin.

A volta do Panamá à lista significa que dividendos que saírem de território francês para o país deverão ser taxados em 75%, além de exigirem maior documentação. Também não será possível abater impostos pagos no Panama da declaração feita na França.

Ainda assim, a medida não deve ter impacto direto sobre a maior parte das práticas documentadas nos Panama Papers, uma vez que, em sua maioria, os clientes utilizavam a Mossack Fonseca para criar empresas em outros países.

Publicidade

"A fraude fiscal é inaceitável num momento em que o povo francês enfrenta tantas dificuldades", disse Sapin.

O banco francês Société Générale é uma das muitas instituições financeiras que ajudaram clientes a abrir conta no exterior com ajuda da Mossack Fonseca. Hoje, o banco afirmou que o escritório panamenho ajudou alguns de seus clientes a abrir companhias offshore, "algumas das quais" ainda estão ativas hoje.

"Estas companhias são comandadas com total transparência", disse o SocGen, acrescentando que lembra regulamente a seus clientes de suas obrigações em se enquadrar nas regras e regulamentos de seus países.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.